Você já ouviu falar em “tbt”? O termo é uma abreviatura da expressão em inglês throwback thursday e pode ser traduzido como “quinta-feira do regresso”. Na prática, muitas pessoas usam #tbt nas legendas das fotos ou vídeos nas redes sociais para recordarem alguns momentos especiais que viveram, como encontros com os amigos e viagens.
E o que isso tem a ver com a página? Começando por hoje, a cada quinta-feira será publicada uma matéria recordando a história de algum atleta, ou ainda relembrando partidas e títulos que tenham sido marcantes. O próprio período da quarentena nos traz esse sentimento de nostalgia misturado com a vontade de viver os bons momentos novamente. Então, a expressão #TBTesportivo será utilizada para lembrar dos grandes feitos no esporte.
Como você já deve ter percebido pelo título da matéria, Niki Lauda é o protagonista na estreia deste novo quadro aqui no Hora Minas. No dia 20 de maio de 2019, aos 70 anos, o tricampeão mundial de Fórmula 1 nos deixou. Porém, o seu legado e a sua superação serão lembrados para sempre!
Onde tudo começou
Andreas Nikolaus Lauda nasceu em Viena, na Áustria, no dia 22 de fevereiro de 1949. Mesmo pertencendo a uma família com boas condições financeiras, ele não recebeu apoio para dar início a sua trajetória no automobilismo.
Por conta própria, Lauda começou a pilotar em categorias de menor expressão na Europa. Em 1971, ele conseguiu um empréstimo no banco e comprou uma vaga na equipe March, na Fórmula 2, permanecendo até o ano seguinte.
Em 1972, a March chegou a disputar a Fórmula 1, porém os carros não eram bons o suficiente e Niki Lauda não pontuou na temporada. O sueco Ronnie Peterson era o piloto principal da equipe.
Já em 1973, Lauda pegou um novo empréstimo para ingressar na BRM, onde seria companheiro de time do suíço Clay Regazzoni. A equipe estava na F1, mas também não vivia a sua melhor fase. Por isso, os pilotos precisaram abandonar diversas provas por problemas nos carros.
Mesmo assim, Lauda conseguiu pontuar uma vez, chegando na quinta colocação em tempos onde apenas os seis primeiros marcavam. Além do mais, chamou a atenção a forma como ele conversava com os mecânicos em busca do melhor para o carro.
A grande chance na sua carreira surgiu em 1974, quando Clay Regazzoni foi contratado pela Ferrari e, então, elogiou o trabalho do Lauda para o dono da escuderia. A dupla da BRM agora estava em uma grande equipe da Fórmula 1, o que lhes garantiram bons resultados naquele ano.
Lauda foi o pole position em nove oportunidades, conquistando duas vitórias nos grandes prêmios da Espanha e da Holanda. Terminou o campeonato na 4ª colocação com 38 pontos somados. Já Clay Regazzoni largou na pole position uma vez e venceu a prova na Alemanha. Porém, pontuou mais que Lauda ao longo de toda a temporada e ficou com a vice colocação, somando 52 pontos. O brasileiro Emerson Fittipaldi foi o grande campeão de 1974 ao fazer 55 pontos pela McLaren.
A consagração
Depois de demonstrar um bom início na Ferrari, o ano de 1975 veio para consagrar Niki Lauda. Das 14 provas disputadas, ele venceu cinco vezes e foi campeão mundial. O título veio com um circuito de antecipação, na Itália, quando terminou em 3º e seu companheiro de equipe, Clay Regazzoni, venceu o GP. O suíço terminou o campeonato na quinta posição, o que também garantiu o título de construtores à Ferrari após 11 anos de jejum.
Lauda foi campeão, em 1975, com 64,5 pontos. Fonte: LAT Images.
Do céu ao inferno
Depois do título mundial, Niki Lauda começou a temporada de 1976 muito bem. Das seis primeiras provas disputadas, ele venceu quatro e ficou duas vezes em segundo. O inglês, James Hunt, era quem aparecia como um grande adversário na disputa pelo título e isso fez com que a rivalidade entre os dois aumentasse. Mas, ainda assim, Lauda era dominante ao somar 61 pontos nas primeiras nove provas, enquanto seu adversário tinha 26.
Hunt chegou na Fórmula 1 em 1973, onde pilotou pela Hesketh Racing até 1975. Terminou na 8ª colocação nas duas primeiras temporadas e, na terceira, ficou em 4º. O piloto era conhecido por seu estilo bad boy, onde não escondia seu vício por drogas, bebidas e mulheres. A grande oportunidade na sua carreira estava acontecendo justamente no ano de 1976.
Emerson Fittipaldi havia deixado a McLaren para criar a Copersucar-Fittipaldi, a primeira e única equipe brasileira na história da Fórmula 1. Com isso, surgiu uma vaga na equipe inglesa que foi preenchida pelo Hunt, até porque a Hesketh havia fechado as portas.
Antes da 10ª prova da temporada, em Nürburgring, na Alemanha, houve uma reunião entre os pilotos onde Lauda pediu para que o grande prêmio fosse cancelado. Mesmo sendo o mais rápido naquela prova, ele se preocupou com a falta de medidas de segurança. Isso porque o circuito tinha 23 quilômetros e era necessário que tivessem mais bombeiros e veículos de segurança.
Porém, a maioria dos pilotos votaram contra o pedido de cancelamento e a prova ocorreu no dia 1 de agosto de 1976. Logo na segunda volta, uma falha na suspensão traseira do lado direito fez com que a Ferrari de Lauda batesse no guardrail. Com o impacto, o carro voltou para a pista, em chamas, e colidiu com outro veículo.
Os pilotos Arturo Merzario, Brett Lunger, Guy Edwards e Harald Ertl foram até o carro de Lauda para fazer o resgate que lhe salvou a vida. O fogo gerou muitas queimaduras, principalmente no rosto, e a inalação da fumaça causou problemas de saúde nos seus pulmões e no sangue. A situação era tão grave que um padre foi até o hospital para lhe dar a extrema-unção, algo concedido a quem estivesse nos últimos momentos da vida.
Em entrevista ao Globo Esporte, Arturo Merzario, um dos responsáveis por ajudar o Lauda, contou como foram os momentos de tensão.
“Tentei entrar no meio do fogo, mas era impossível, o calor te queimava. Naquela época, não havia tantos comissários como hoje, por isso colocavam atrás do guardrail extintores de incêndio. Vi um, fui lá, peguei e com a espuma abrindo caminho me aproximei da Ferrari. Mesmo assim, na primeira tentativa não consegui, as chamas envolviam tudo”, disse Merzario.
O ex-piloto da Wolf-Willians ainda completou: “Lauda estava gritando, urrava, dizendo que estava sendo queimado, estava tão tenso, fazia tanta força nas alças do cinto de segurança que quando cheguei não havia como destravá-lo. Só na terceira tentativa é que pude soltá-lo e começar a puxá-lo para fora daquele horror. O treinamento militar que eu havia feito me ajudou. Colocamos Lauda no chão. Estava consciente, mas bastante queimado. A ambulância demorou 10 minutos para chegar. E logo deram oxigênio para ele”.
Como uma fênix, Lauda ressurge das cinzas
De forma inacreditável, Niki Lauda demonstrou uma incrível força de vontade para se recuperar e voltar às pistas. Apenas 42 dias após ter recebido a extrema-unção, ele retornava a Fórmula 1 para disputar o GP da Itália.
Na sua ausência, três provas foram realizadas e Hunt somou 21 pontos, totalizando 47 contra os 61 de Lauda. Mesmo com graves ferimentos no rosto e usando bandagem, o austríaco conquistou o 4º lugar em seu retorno.
Apesar das personalidades diferentes, Lauda e Hunt se respeitavam profissionalmente. Fonte: Bildagentur Kräling.
Hunt venceu as duas provas seguintes e a diferença para Lauda diminuiu para apenas três pontos. A última e decisiva corrida aconteceu no dia 24 de outubro de 1976, no Japão.
Uma forte chuva tomou conta do circuito no Monte Fuji e prejudicou o início da prova. Os pilotos pediam o adiamento da largada em 30 minutos, mas a organização estava resistente. Bernie Ecclestone, na época promotor do grande prêmio no Japão, propôs, por causa dos acordos com a TV, que todos os pilotos dessem uma volta e depois desistissem da corrida. Lauda foi um dos poucos que cumpriu o acordo. Hunt continuou, mesmo sem condições ideais de segurança, em busca do título.
Ao sair do carro, Niki disse: “Minha vida vale mais do que um campeonato”. Hunt terminou a prova em terceiro e conquistou quatro pontos, o suficiente para ser o campeão de 1976 apenas com um ponto de vantagem para Lauda.
Niki voltou a ser campeão mundial em 1977, pela Ferrari, e depois ficou sem correr em 1980 e 1981. Voltou em 82, pela McLaren, e conquistou seu tricampeonato em 1984 com apenas meio ponto de diferença para Alain Prost. Mas, isso é assunto para outra hora!
Gostaram do primeiro #TBTesportivo? Já aproveitem para deixar, nos comentários, sugestões para o quadro da próxima quinta-feira.