Quem passa pela avenida Governador Valadares, na cidade de Bom Despacho, no centro-oeste de Minas, costuma ouvir com frequência o som de música caipira tocando. No repertório consta, principalmente, os clássicos Chico Mineiro e Menino da Porteira, de Tonico & Tinoco. O som vem da casa de Antonio José Cabral, um senhor de 76 anos que fabrica violas artesanais de madeira, bambu e cabaça há mais de duas décadas. A produção acontece na varanda de sua casa, onde também costuma fazer os testes nas peças. Os instrumentos do Seu Cabral das Violas, como é conhecido na cidade, já passou por violeiros de renome, como Adriana Farias, do trio sertanejo Barra da Saia e o músico Chico Lobo. O reconhecimento é tão grande, que ele já recebeu visitas ilustres, como a dupla sertaneja Zé Mulato & Cassiano e o violinista Fernando Sodré. As violas do Seu Cabral também já cruzaram fronteiras e chegaram a clientes na Argentina, Estados Unidos, Londres e até Japão. Muitos fazem questão de ir pessoalmente buscar a peça em Bom Despacho. E lá são recebidos com muita simpatia pelo artesão, homem simples e que adora uma prosa, ao som da viola, claro. Ele fabrica instrumentos em tamanho pequeno, médio e grande. A matéria-prima vem de doações de amigos e aproveitamento de entulho de casas antigas. O resultado são violas de bom gosto e acabamento impecáveis. O Seu Cabral cuida com muita paciência de cada detalhe, desde a escolha das madeiras até a decoração do corpo do instrumento, com marchetaria (encaixe perfeito de diversos tipos de madeira). Cada peça custa R$ 1,5 mil. Ele já perdeu as contas de quantas violas produziu. Chega a gastar até um mês para fabricar com muito carinho cada unidade. Se o tempo estiver chuvoso ou muito quente, o prazo pode ser maior, em função da dilatação da madeira. "São muitos detalhes", diz. Quem compra tem prazo de a perder de vista. "Eu não estipulo tempo. Qualquer problema que a pessoa tiver, pode trazer de volta. Mas até hoje ninguém voltou", orgulha-se. Nascido em Santo Antônio do Monte, Seu Cabral aprendeu o ofício da fabricação de violas com o pai, que era carpinteiro. Inicialmente, foi essa a profissão que seguiu, mas, hoje, além da paixão pelos instrumentos, ele dedica-se, também, ao serviço de torneiro e fabricação de esculturas. "É um prazer. O tempo passa rápido e fazemos uma coisa que agrada todo mundo", diz. O carinho que Seu Cabral tem pelas violas é compartilhado em festas e reuniões de família. Ele tem seis filhos, dez netos e um bisneto. Tocar e cantar ao som da viola faz parte dos encontros familiares, que são animados com músicas caipiras de raíz tocadas ao vivo.

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