Um exemplo para todos. Essa é a definição dada pelos pais, amigos e professores a Joiciene Alves Batista, a primeira aluna surda que concluiu a graduação na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Ela se formou, na noite da ultima terça-feira (29/08), no curso de Letras com habilitação em Língua Portuguesa.
Natural de Palmeiras de Goiás, mas morando atualmente em Araguari, Joiciene ingressou na UFU em 2012. Durante a graduação, ela conta que enfrentou algumas dificuldades. Precisava viajar todos os dias para Uberlândia e tinha uma rotina cheia. “No começo eu fazia o turno matutino e acordava de madrugada para vir pra cá. Depois de um tempo, eu consegui uma vaga de emprego e meu tempo se tornou mais escasso ainda. Mas eu aprecio essa questão do esforçar porque você amplia seus horizontes, eu acredito nisso”, afirma a agora egressa, que concedeu entrevista mediada por sua intérprete, Letícia Leite.
A relação com a intérprete vai além do auxílio para a comunicação de Joiciene com as pessoas ouvintes. Letícia a acompanha desde o ensino fundamental, juntamente com outra intérprete, Raquel Bernardes, ambas servidoras da UFU lotadas no Centro de Ensino, Pesquisa, Extensão e Atendimento em Educação Especial (Cepae). Joiciene “é uma filha do coração” para Letícia. “Eu fico muito feliz e me sinto extremamente honrada de fazer parte dessa trajetória”, diz a intérprete.
A graduação era um sonho para Joiciene, que sempre teve seus olhos voltados para o futuro, independentemente das dificuldades que encontraria no seu caminho. “Da mesma forma que foi um desafio para mim, acredito que para os outros alunos ouvintes também. Imagino que eu, enquanto pessoa surda percebendo todos os desafios, mas conseguindo superá-los, me torne um exemplo para outras pessoas surdas”, relata.
Letícia (à esquerda) e Raquel (à direita) são intérpretes de Joiciene (ao centro) desde o ensino fundamental. (Foto: Milton Santos)
Ela também foi a primeira aluna surda a ingressar no curso de Letras com habilitação em Língua Portuguesa. Segundo Joiciene, essa escolha foi ousada, já que a maioria dos surdos cursam a habilitação em Libras. “Isso demonstra que todos têm capacidade para fazer qualquer curso na universidade”. Já pensando no depois, ela conta que quer fazer mestrado e doutorado, e é incentivada pelos amigos e pais. Para a mãe, Cleusa Helena Alves Batista, o sentimento é de dever cumprido. “Acredito que valeu a pena tudo que a gente passou”, afirma.
A felicidade de Joiciene é vísivel no olhar. Ela espera que não só sua família e amigos a tenham como exemplo, mas todas as pessoas, principalmente surdas. “Que eu não seja a última a se formar, que venham outras e tenham essa mesma realização”, almeja.