Alunos e professores de diversas escolas estaduais de Minas Gerais têm se destacado em eventos científicos promovidos por importantes instituições nos quatro cantos do Brasil.
Na edição 2017 da UFMG Jovem, por exemplo, tradicional feira científica da Universidade Federal de Minas Gerais, dos 22 trabalhos inscritos por 16 escolas de diferentes municípios mineiros, a rede estadual conquistou 10 premiações, com projetos desenvolvidos por docentes e estudantes dos ensinos fundamental e médio.
“É o reconhecimento dos dias, anos de estudos e noites sem dormir. Analisando relatórios antigos e atuais, percebemos uma evolução, tanto na escrita quanto no entendimento geral da pesquisa, e a premiação afirma que estamos no caminho certo”
Alex Rodrigues de Araújo, aluno do 9º ano da Escola Estadual Domingos Justino Ribeiro, em Mateus Leme
O projeto da escola conquistou o 2º lugar geral na categoria Ensino Fundamental, com o trabalho“Caracterização fitoquímica dos tubérculos da planta inhame (Dioscorea sp.)”, que investiga o poder repelente do vegetal.
Orientado pela professora de Ciências e Biologia, Fabíola Fonseca, o grupo, formado por mais dois alunos, constatou, após muita pesquisa e testes, que as vitaminas do complexo B presentes na planta são as responsáveis por afastar os insetos.
“Além desta ação, os estudos também mostraram que o inhame é um bom hidratante para pele. Então, eles desenvolveram dois tipos de creme, sendo um feito a partir da polpa e outro da casca, que funcionam ao mesmo tempo como repelente e hidratante corporal”, explica Fabíola.
Em 2016, o projeto conquistou o 1º lugar na Feira de Ciências, Tecnologia, Educação e Cultura (Fecitec), realizada no Campus Florestal da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Coordenando também o trabalho “A batata milagrosa: estudo das propriedades medicinais e das características botânicas”, desenvolvido pelas estudantes Lohana Tomaz Silva e Lorena Tomaz Silva, do 1º ano do ensino médio, Fabíola Fonseca ganhou o prêmio de Professora Destaque, na categoria Ensino Médio.
“Estava longe das minhas expectativas, afinal, tenho menos de três anos e meio de docência. No momento do anúncio, congelei, fiquei alguns segundos sem acreditar. Passou um filme pela minha cabeça sobre toda a dificuldade do caminho, todas as críticas e estigmas recebidos pelos alunos do ensino público”, conta Fabíola, que foi aluna da Escola Estadual Domingos Justino Ribeiro do pré-escolar até o ensino médio, e desde 2015, é professora titular na instituição.
Para a docente, a premiação representa mais do que uma valorização do seu trabalho. “Mostra para a sociedade que a educação pública não é inferior à particular. Que a educação é uma ferramenta poderosa e sua principal vertente são as pessoas (docentes e discentes), que acreditam e trabalham arduamente por um futuro mais promissor”, diz.
Outros destaques
Os estudantes das Escolas Estaduais Celso Machado e João Rodrigues da Silva, respectivamente, de Belo Horizonte e Prudente de Morais, levaram as instituições a conquistarem o prêmio de Escolas Destaques na 18ª edição da UFMG Jovem.
“O momento e a premiação só enchem de orgulho toda equipe. Cada prêmio, cada menção honrosa que os alunos e a escola recebem por participarem em eventos de fomento ao protagonismo juvenil só demonstram que estamos cada dia mais no caminho certo de uma educação que valoriza os vários saberes de nossos alunos”, afirma José Roberto dos Santos, diretor da Escola Estadual Celso Machado.
“Nós ficamos motivados a continuar estudando para aperfeiçoar nosso trabalho e, também, a participar de outras feiras de ciências, pois são eventos que proporcionam um grande aprendizado e são oportunidades para praticarmos o que aprendemos em aula”
Gustavo Faria, aluno do 2º ano do ensino médio da Escola Estadual Celso Machado, de Belo Horizonte
Com a pesquisa, a escola garantiu, no último ano, o 4º lugar geral e o 1º na área de Engenharia, na 3ª Feira de Ciências, Tecnologia e Cultura (Fecitec), organizada pela Universidade Federal de Viçosa.
A escola levou para a UFMG Jovem o trabalho “ATP: Aliando Teoria e Prática”, que demonstra as utilidades e potencialidades da máquina SMC para despertar nos alunos o interesse pelos estudos. Projetada e construída por Gustavo Faria, a SMC permite a criação de peças em 3D de acordo com a matéria ensinada em sala de aula.
“O meu fascínio pelas engenharias me levou a construí-la. Com o tempo, percebi que poderia utilizá-la para ampliar e aliar o ensino teórico e prático em outras áreas do conhecimento. Em sala, podemos elaborar, por exemplo, jogos didáticos e de raciocínio lógico, imagens de células do corpo humano”, relata o estudante.
Orientadora da pesquisa, a professora de Química, Silvani de Oliveira, também destaca que a premiação é um incentivo a toda comunidade escolar.“É o resultado de muito trabalho, planejamento e envolvimento de alunos, educadores, pais, direção, demonstrando assim todo nosso desprendimento de tempo, de saber para um mesmo propósito: desenvolver o projeto e que o mesmo seja aplicado em nossa escola. Além disso, é, sem dúvida, uma motivação para investirmos mais no conhecimento científico”, diz.
Presente em diversas feiras científicas dentro e fora de Minas Gerais e do Brasil e recordista de trabalhos selecionados na 18ª UFMG Jovem – no total de nove iniciativas, sendo cinco desenvolvidas por estudantes do ensino fundamental, três do médio e u na categoria “Convidado” –, a Escola Estadual João Rodrigues da Silva foi destaque na categoria Ensino Fundamental.
“Estamos, sempre, buscando estratégias para envolver os discentes, para potencializar a aprendizagem e torná-los, de fato, protagonistas de todas as ações”, relata a diretora, Rosélia da Silva Carvalho.
Eduardo Teixeira Neves, vice-diretor e professor de Geografia, lembra que a escola mantém, na grade curricular, atividades que estimulam nos estudantes o prazer pela pesquisa.
“Realizamos anualmente a Mostra de Pesquisa Científica (Mopec), que tem revelado potencialidades e contribuído para despertar nos educandos o interesse pela área científica e pela academia”, diz. Os educandos escolheram três trabalhos para apresentar também na Feira Mineira de iniciação científica (Femic), em Mateus Leme.
A escola João Rodrigues da Silva também ganhou, na categoria Ensino Fundamental, o prêmio de Professora Destaque para Selma Aparecida Miranda Alves. “Foi gratificante ver o meu trabalho reconhecido em um evento que reúne profissionais de diferentes lugares e áreas do saber. A premiação me fez pensar que nós podemos muito mais do que acreditamos”, comenta a docente de Língua Portuguesa..
Farinha nutricional
Concorrendo com projetos de instituições municipais, federais, técnicas e privadas, a rede estadual de ensino, além de prêmios de escolas e professores destaques, também foi agraciada com trabalhos vencedores em duas áreas do conhecimento, nas categorias Ensino Fundamental e Médio.
Com a pesquisa “Farinha nutricional inovadora”, a Escola Estadual Alcides Mendes da Silva, localizada no município de Porteirinha, Território Norte, conquistou na UFMG Jovem o prêmio de trabalho destaque na categoria Ciências Biológicas e Ciências da Saúde.
“Apresentar o nosso projeto para diversas pessoas e, ainda, ser escolhido pela comissão, foi muito emocionante. Eu nunca tinha recebido uma premiação”, declara Bernardo Medeiros, estudante do 7º ano do ensino fundamental.
Segundo Maria Suserlei Santos, diretora da escola, o prêmio pode transformar os estudantes. “Agora, tenho certeza de que eles estarão mais entusiasmados em estudar, fazer ciência, investigar e buscar, por meio dos projetos, construir e compartilhar o conhecimento”, afirma. Em 2016, a instituição havia conquistado o 3º lugar geral com a pesquisa “As potencialidades do larvicida leguminoso no combate ao Aedes aegypti”.
Com o projeto, orientado pela professora de Ciências Jucinéia Fernandes Souza, os estudantes produziram, após investigar o potencial nutritivo de plantas do Cerrado, bioma característico da região Norte do estado, uma farinha rica nutricionalmente e que pode ser incorporada à dieta da população.
“Elaboramos uma mistura a partir do jatobá, do amaranto, do baru, que não altera o gosto dos alimentos. Já introduzida na merenda escolar, o produto pode ser consumido com iogurte, feijão, arroz, entre outros alimentos”, explica Bernardo Medeiros.
Reforçando que a pesquisa está alinhada ao projeto “Multiplicadores da Sustentabilidade”, Jucinéia Fernandes Souza afirma que a premiação consagra a proposta pedagógica da escola e o empenho dos alunos. O projeto Multiplicadores da Sustentabilidade visa disseminar informações sobre adoção de práticas sustentáveis e preservação ambiental.
“É a demonstração de que estamos certos em investir e promover a iniciação científica no ambiente escolar. Além disso, reafirma que eles podem ser protagonistas e fazer ciência na educação básica, no sistema de ensino público”
Jucinéia Fernandes,professora de Ciências da Escola Estadual Alcides Mendes da Silva, de Porteirinha
Mais premiações
Os estudantes do ensino fundamental do Colégio Tiradentes, da Polícia Militar de Minas Gerais, na cidade de Barbacena, com o projeto “Quem conta um conto, aumenta um ponto comigo” também venceram como trabalho destaque na categoria Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas e Linguística, Letras e Artes.
Na categoria Ensino Médio, os alunos da Escola Estadual Padre Alfredo Kobal, de Caputira, apresentaram o trabalho “Verde Lar: Habitação Sustentável” e conquistaram o 2º lugar geral na UFMG Jovem.
Na área de conhecimento Ciências Biológicas e Ciências da Saúde, a Escola Estadual Professor Carlos Lúcio de Assis, da cidade de Betim, conquistou como trabalho destaque com a pesquisa “Implicações do Uso Excessivo do Celular da Adolescência à Idade Adulta”.
A Escola Estadual Alessandra Salum Cadar, de Ribeirão das Neves, levou a premiação de destaque com o projeto “Grupo de Estudos sobre Feminismos e Igualdade de Gênero na Escola”, na área Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas e Linguística, Letras e Artes.