Esses dias fui à uma peça musical
em que o meu sobrinho se apresentaria.
Sentei-me mais ao fundo,
quase na última fileira de cadeiras.
De repente, o mestre de cerimônias
anunciou que a peça iria começar,
antes, porém, fez algumas observações,
dentre elas: desliguem os celulares.
Dali a pouco, começou a apresentação.
Imediatamente, na minha frente,
ergueu-se um mar de celulares
e alguns tablets...
As crianças mesmo eu mal
enxergava por entre as telas!
O pedido do mestre foi expresso,
e o desatendimento a ele
foi sem cerimônias.
Será que estou exagerando
em achar isso uma tremenda
falta de respeito?
Devido à iluminação do cenário,
o ambiente estava um pouco escuro,
então as pessoas tiravam fotos com o flash ligado,
pouco importando se o “clarão”
estava incomodando as crianças.
Para esse tipo de pessoa
o importante é ser “esperto”
e possuir o registro “proibido”.
São tantas imagens,
tantos vídeos que, afinal,
nunca serão vistos
por esses acumuladores digitais.
Havia uma criança, de uns oito anos,
na minha frente, com um celular.
Ele filmou praticamente todo o show.
Mas como o braço dele começou a doer
de tanto ficar pra cima, então ele
fraquejava e filmava, muitas vezes,
com a câmera torta.
Pra essa criança, o ato de filmar
era mais importante
que o conteúdo em si.
Estaria tudo bem,
se ele não estivesse atrapalhando
a visão de outras pessoas
realmente interessadas na peça.
O que está acontecendo conosco,
que vamos num show da vida real
e prefiramos acompanhá-lo pela telinha
do celular?
Será que vamos ter que proibir
a entrada de celulares (e afins)
nos cinemas e casas de espetáculos,
devido à falta de educação de
certas pessoas? Não duvido.
Mas essa falta de educação,
evidentemente,
é reflexo do cotidiano.
Tem gente que é assim no dia-a-dia.
Estando com alguém ela sempre
está conversando com outra pelo celular:
se está na presença de Maria,
ela conversa com João;
se está na presença de João,
ela conversa com Maria.
De longe,
as pessoas riem,
trocam memes,
compartilham fotos e vídeos,
a interação é total.
Mas, pessoalmente,
a conversa não flui,
o assunto não rende;
é um mudo e o outro calado.
Será que estamos perdendo a capacidade
da interação olho-no-olho?
De qualquer forma,
é horrível estar na presença de alguém
que não nos dá atenção,
sendo nós artistas ou não.