Estreou na Netflix, em maio, o documentário "Minha História" da ex-primeira-dama dos Estados Unidos Michelle Obama. A obra cruza a trajetória de Michelle com a história de jovens negras, desconhecidas, e traz lições sobre como seu posto de uma das pessoas mais conhecidas do mundo foi cercado por questões raciais. O especial mostra conjuntamente a turnê de divulgação do livro de mesmo nome, lançado por Michelle em 2018.
Em uma hora e meia de produção, Michelle se apresenta como ex primeira-dama em poucos momentos, dividindo com o público parte de sua intimidade, suas convicções e os desafios que precisou enfrentar antes e depois de se mudar para a Casa Branca. O documentário é recheado de clichês comuns a histórias sobre grandes celebridades com participações especiais, relatos emocionados e trilha sonora escolhida a dedo, mas em “Minha História” o que reluz é mesmo o poder de inspirar da protagonista.
Em sua passagem por 34 cidades norte-americanas no ano passado, a ex-primeira-dama se apresentou em arenas lotadas e dedicou algumas horas a pequenos grupos de comunidades marginalizadas para conhecer outras histórias e dividir seu aprendizado com jovens. Michelle, assim como Barack, representa e inspira milhões de pessoas, e é emocionante ver as reações dessa legião ao ouvir as histórias, confissões e palavras de incentivo.
A seguir, mais falas e questões inspiradoras de Michelle:
1. Na vida acadêmica, sonhar muito alto não existe
Michelle conta que seu irmão mais velho, Craig, foi estudar em Princeton, e ela também decidiu frequentar a Universidade. Uma professora, no entanto, a disse que ela estava sonhando demais. Michelle não aceitou aquela limitação, "que foi um soco no estômago" e se formou na instituição em Sociologia, com especialização em estudos afro-americanos. Depois, seguiu a carreira acadêmica estudando Direito em Harvard.
2. Mulheres negras precisam perseverar na invisibilidade
Ao conversar com uma turma de jovens negras, uma delas pergunta a Michelle como ela superou a invisibilidade.
"Eu nunca me senti invisível e eu não me sentir invisível, hoje, é porque meus pais sempre fizeram eu me sentir visível. Não veio das coisas que estava acontecendo no mundo, mas do que acontecia na minha mesa de jantar".
3. O racismo é sempre muito cruel
Michelle diz que nos anos 70, famílias negras se mudavam para bairros norte-americanos e eram motivo de "pavor" entre a população branca, que fugia para o subúrbio. Ela fala sobre como a tentativa de mostrar que alguém ou um grupo "não pertence" a algum lugar é uma expressão de racismo.
4. A parceria vale muito no relacionamento
O relacionamento de Michelle e Barack Obama também faz parte das lições deixadas por ela no documentário. Ela conta que o engajamento do marido em questões sociais também a desafiou a buscar conhecimento.
"Eu não queria ser apenas um acessório dos sonhos dele", diz. "Então isso me forçou a pensar, a trabalhar e a tomar decisões, como a de deixar a advocacia".
5. Terapia de casal ensina a buscar felicidade sozinha
Quando o documentário toma uma perspectiva mais íntima, Michelle fala sobre o quão importante foi respeitar e se atentar às fases da vida em família, como a maternidade e os altos e baixos do casamento.
"A terapia me ajudou a olhar como eu controlo minha própria felicidade dentro do casamento", apontou.
6. O estereótipo de "negra raivosa" ainda precisa ser destruído
Durante a campanha presidencial para o que viria ser o primeiro mandato de Barack Obama como presidente dos EUA, em 2008, Michelle conta que passou a ser alvo dos opositores do marido, na política e da mídia. Por essa razão, viu charges, comentaristas de TV, matérias reforçando o padrão preconceituoso de que mulheres negras são raivosas, histéricas e não conseguem se controlar ao falar, ao se referirem a ela.
"Por isso, parei de falar de improviso, precisei ser roteirizada", comenta. "Eu começava a acordar para a verdade de quem podemos ser. E me preparei para esperar o pior das pessoas. A única coisa que eu podia fazer era dizer que aquilo doía".
7. É possível estar na Casa Branca e mudar o legado
A ex-primeira dama diz em entrevista no documentário que antes de ocupar a Casa Branca viu que os mordomos, a maioria, afro-americanos ou latinos, usavam sempre smoking. Ela decidiu mudar essa perspectiva para que as filhas do casal Obama, Malia e Natasha, não os vissem sempre em condição de servidão, associada à roupa.
"Eu não queria que minhas filhas crescessem com essa imagem. Isso não me parecia certo, sabe?".
Michelle conta que também pediu às governantas para que elas deixassem as meninas aprenderem a cuidar e a limpar os quartos, para que entendessem sobre a rotina de uma casa.