Se estivesse vivo, Nelson Rodrigues completaria 105 anos, dia 23 de agosto. Dramaturgo, jornalista, cronista esportivo, autor de folhetins, romancista, foram muitas as denominações para o “anjo pornográfico”, que fez história ao lançar a peça Vestido de Noiva, em 1943, considerada um marco no teatro moderno brasileiro.
Pernambucano, que foi para o Rio de Janeiro ainda criança, Nelson Rodrigues era o quinto de uma família de catorze filhos. Antes de dramaturgo, foi jornalista. Aos 13 anos, começou a trabalhar no jornal do pai, Mário Rodrigues, que havia fundado A Manhã. Em 1929, já trabalhando no segundo jornal do pai, chamado Crítica, Nelson Rodrigues viveu uma tragédia familiar que marcou toda a sua trajetória: a morte do irmão Roberto Rodrigues, que levou um tiro, na redação do jornal, dado por uma mulher da alta sociedade inconformada com a publicação de uma matéria sobre seu divórcio.
Em 1936, ele começou a atuar como comentarista esportivo no Jornal dos Sports, quando o irmão Mário Filho se tornou sócio da publicação. Nelson passou a fazer contribuições sobre futebol. Trabalhou em diversos veículos, como Correio da Manhã, O Jornal, Última Hora, Manchete Esportiva e Jornal do Brasil, mas não se restringiu ao futebol. Foi repórter policial, escreveu crônicas, contos, folhetins – sob o pseudônimo de Suzana Flag -, artigos de opinião e a famosa coluna A Vida Como Ela É, depois encenada na televisão.
A primeira peça de Nelson Rodrigues, A Mulher Sem Pecado, estreou em 1942. Foi, no entanto, com a segunda peça, Vestido de Noiva, cuja primeira montagem ocorreu em 1943, no Teatro Municipal do Rio, que veio a consagração como dramaturgo. No teatro, foram 17 peças. Para o cinema, foram 23 adaptações.
Autor de frases famosas e conhecido pelas opiniões polêmicas, o dramaturgo nem sempre foi bem compreendido pela sociedade da época em que viveu. “Ele foi um escritor genial, não só introduziu o modernismo no teatro brasileiro, mas foi um intérprete do seu tempo, queria chocar, colocava o dedo na ferida falando da hipocrisia do mundo de forma bem-humorada”, afirma Adriana Armony, escritora carioca, professora do Colégio Pedro II e doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com a tese Nelson Rodrigues, leitor de Dostoiévski.