O nome do trabalho é Baile de máscara, o tema é carnaval, mas o EP com seis faixas que Luana Carvalho acaba de lançar tem um sentido que extrapola a folia. A cantora carioca, de 39 anos, chama de “quarentena de cinzas” esta época em que vivemos. Gestado e gravado durante o período de isolamento social decorrente da pandemia do coronavírus, o disco versa sobre afeto, perda, saudade, solidão, desigualdades, racismo.
Produzido por Kassin, Baile de máscara é homenagem da cantora a sua mãe, Beth Carvalho (1946-2019). Filha única da sambista e do jogador de futebol Édson Cegonha (1943-2015), Luana selecionou seis canções do repertório de Beth que poderiam fazer a ponte entre a transição da época festiva com o período da quarentena.
Baile de máscara não existiria não fosse a pandemia? “Acho que a pandemia trouxe sentido ao disco”, ela diz. Uma homenagem à mãe já estava na mira de Luana. “Eu sabia que faria em qualquer momento da minha vida.” O momento chegou sem qualquer planejamento.
“Fiquei em um estado meio entorpecido no primeiro ano da morte da minha mãe (Beth morreu em 30 de abril de 2019, aos 72 anos). Queria fazer uma playlist com as músicas dela que gosto de ouvir quando completasse um ano. Nesse caminho, fui me dando conta da quantidade de canções que falam de carnaval, não só os sambas de carnaval”, conta Luana.
Nesse processo, ela recuperou algo que Beth fazia na adolescência. “Ela tinha cadernos em que escrevia letras de músicas. São muitos, com todos os sambas das escolas, dos blocos. Comecei a fazer isso na quarentena também”, diz Luana. Foi daí que ela passou às analogias.
“Dia seguinte fala do que acontece no final do desfile (“Que será dessa porta-bandeira/ Que foi tão aplaudida/ Amanhã quando recomeçar a tristeza interrompida/ E esse rei que perdeu a coroa e a glória consentida”). Isso também acontece hoje com os entregadores, a galera que faz a vida acontecer, está correndo todos os riscos. O carnaval no Brasil foi ficando cada vez mais branco e tais letras começaram a ‘casar muito’”, diz. Carnaval comenta sobre o sentido da festa, que parece ter se perdido: “Pode ser onde for/ Não faz mal/ Gente branca ou de cor/ Tudo igual”.
Quando fez contato para que Kassin produzisse o trabalho durante o período de isolamento social, o repertório já estava definido. “Falei com ele que iria tocar, em casa, o que conseguisse. Tinha também o Vovô Bebê (o compositor e produtor Pedro Dias Carneiro), que já era parceiro. Um dia, Kassin me ligou dizendo que havia uma galera conseguindo gravar remotamente. Quando ele me contou quem era, falei: 'Está de sacanagem.'.”
Foi dessa maneira que o álbum contou com a participação de Pretinho da Serrinha (percussões e cavaquinho), Cristina Braga (harpa), Dedé Silva (bateria), Rodrigo Tavares (teclados), Luis Filipe de Lima (violão 7 cordas), Marlon Sette (trombone) e Jorge Continentino (clarinete). Chiara Banfi fez os coros.
Luana tinha pressa, queria que o trabalho ficasse pronto para o primeiro ano de morte de Beth ou para o Dia das Mães. Não deu, ficou para um pouco depois. Mesmo assim, o processo foi bem veloz. Tudo gravado em duas semanas, cada um de sua própria casa.
Quando as cinco canções estavam sendo mixadas, veio a ideia de gravar Visual. A intenção era unir mãe e filha. A participação de Beth, que seria pequena, acabou crescendo, pois Kassin conseguiu extrair a voz da sambista da gravação original.