O ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, disse, nesta quarta-feira (2), que é prioridade do Ministério da Cultura (MinC) a criação do Museu Nacional do Valongo, para resgatar a história da escravidão no Brasil e a herança africana no país. Sá Leitão pretende reunir representantes da Prefeitura do Rio de Janeiro e de instituições do MinC para encaminhar uma solução para a instalação do museu.
Na manhã desta quarta-feira (2), Sá Leitão participou de duas audiências relacionadas ao tema em seu gabinete. Na reunião com o antropólogo Milton Guran, que coordenou a candidatura do Cais do Valongo a patrimônio da humanidade, foi entregue ao ministro um abaixo-assinado de intelectuais brasileiros defendendo a criação do Museu Nacional do Valongo – Memorial da Diáspora Africana. Na audiência com a deputada federal Laura Carneiro (PMDB-RJ), o diretor-executivo da ONG Ação Cidadania, Rodrigo Afonso, e representantes da Secretaria do Patrimônio da União do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Anna Cristina de Moura Cruz e Valéria Veloso Soares, o ministro buscou mediar soluções para estabelecer um espaço para a construção do Memorial.
No mês passado, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) reconheceu o Cais do Valongo, localizado na zona portuária do Rio de Janeiro, como patrimônio da humanidade. Entre os compromissos assumidos pelo poder público brasileiro na candidatura está a criação do memorial da história africana no país, condição obrigatória para a manutenção do título da Unesco.
"Nós faremos em breve uma reunião no Rio envolvendo a prefeitura e as instituições do Ministério da Cultura para construirmos uma solução para essa questão, que é prioritária", afirmou o ministro. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e a Fundação Cultural Palmares (FCP) já estão envolvidos nesse processo.
Abaixo-assinado
"Fiquei muito feliz de ver o interesse da academia, em uma manifestação tão enfática, relacionada a um assunto tão importante. O Ministério da Cultura vai assumir o seu papel nesse processo, buscando reunir todos os interessados, todas as visões, para que a gente possa construir de comum acordo uma solução para essa questão, no curto prazo. Então, é um compromisso com o resultado, com a realização desse empreendimento", disse o ministro na audiência com o antropólogo.
O documento entregue por Guran tem a assinatura de 57 intelectuais, entre eles o historiador Alberto da Costa e Silva (membro da Academia Brasileira de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro), a professora Ana Lucia Araújo (Howard University), a pesquisadora Elisa Larkin Nascimento (Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros), o professor João José Reis (Universidade Federal da Bahia), o cientista político e historiador José Murilo de Carvalho (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o professor congolês Kabengele Munanga (Universidade de São Paulo), a professora Lilia Moritz Schwarcz (Universidade de São Paulo), o professor Paulo Knauss de Mendonça (Universidade Federal Fluminense) e o professor Rafael Sanzio Araújo dos Anjos (Universidade de Brasília). As assinaturas foram colhidas entre 19 e 31 de julho.
A criação do Museu Nacional do Valongo tem o apoio da Assembleia Nacional de História (ANPUH). "O Estado Brasileiro deve à matriz africana um museu nacional que reconte a história do tráfico de escravos e dos africanos escravizados no Brasil e nas Américas, para dar visibilidade às suas realizações e estabelecer um diálogo efetivo com os demais países envolvidos na Diáspora Africana nas Américas e na África", disse Guran.