Está salvo da destruição o primeiro arranha-céu do Brasil. Após uma década de incertezas e degradação acelerada, com um período interditado, o Sobradão da Vila do Fanado ou simplesmente Sobradão, em Minas Novas, na Região do Vale do Jequitinhonha, a 520 quilômetros de Belo Horizonte, ressurge na paisagem com a fachada restaurada e expectativa de reabertura em agosto ou setembro. "Pela primeira vez na história do prédio, todos os quatro andares serão ocupados", informa a chefe do Departamento do Patrimônio Cultural da prefeitura local, Irene Barbosa Sena.
Tombado em 1959 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a construção do início do século 19 recebeu, com recursos federais, obras que contemplaram a parte externa, incluindo pintura, serviços de alvenaria e troca de madeiras. Já a Prefeitura de Minas Novas fará a recuperação da parte interna, com destaque ainda para as instalações elétricas, segurança e combate a incêndio. O custo, na segunda etapa, está estimado em R$ 150 mil, valor proveniente do repasse do ICMS do Patrimônio Cultural.
Irene explica que no andar térreo funcionarão uma loja de artesanato, a Secretaria Municipal de Cultura e a biblioteca pública, enquanto no segundo o Museu de Artes e Ofícios, recriando antigas atividades típicas da região, a exemplo dos tropeiros, garimpeiros, ferreiros, e o Museu Regional de Artesanato do Vale do Jequitinhonha. O terceiro andar abrigará o Museu Minas-novense de Arte Sacra, ficando no último a Academia Fanadeira de Letras e Artes.
Serviços
Em nota, a Superintendência do Iphan em Minas esclarece que, diante do atual cenário de emergência sanitária, ocorreu somente a entrega provisória da obra. A vistoria para a entrega definitiva ocorrerá até 9 de julho.Os técnicos observam que as intervenções no Sobradão complementaram a primeira obra, realizada em 2017, de caráter emergencial, visando garantir a recuperação estrutural e de seus elementos arquitetônicos. E mais: "O imóvel não se encontra apto para uso imediato, visto que não possui instalações prediais – que não eram objeto da contratação – , porém a edificação se encontra recuperada estruturalmente e em adequadas condições físicas ".
Na Justiça
Em fevereiro de 2016, conforme publicado, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) ajuizou ação pedindo a recuperação, pela prefeitura local, do imóvel de quatro pavimentos datado do início do século 19, que abrigava setores administrativos, escola de música, museu e loja de artesanato até pouco tempo. “A situação é deplorável. Trata-se de uma edificação histórica, do período colonial, sofrendo com a falta de cuidados” disse, na época, o então promotor de Justiça da comarca de Minas Novas Daniel Lessa Costa.
Segundo o MPMG, o Sobradão poderia ruir se não fossem tomadas medidas urgentes. “Nesse imóvel, de propriedade da prefeitura, funcionava uma escola de música para crianças, daí aumentar nossa preocupação. Além de vidas humanas – que devem ser prioritariamente acauteladas –, o patrimônio cultural nacional corre iminente risco de perda irreparável e não podemos nos calar”, alertou o autor da ação civil pública. Nesse trabalho, atuou também o então titular da Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais (CPPC), promotor de Justiça Marcos Paulo de Souza Miranda.
História
Surgida no início do século 18, Minas Novas, antigo Arraial do Fanado, é uma das mais importantes cidades do período colonial mineiro, ainda guardando templos, ruas, além de edificações residenciais, comerciais e oficiais que contam parte da história do estado, conforme pesquisa do Ministério Público de Minas Gerais. A principal referência arquitetônica da cidade é o Sobradão, que conta com quatro pavimentos e é considerado o primeiro arranha-céu de Minas e do Brasil colônia.Construído em 1821, tem estrutura de madeira e taipa, com dimensões incomuns para a época. A fachada considerada como principal apresenta quatro portas de loja no térreo, em vergas alteadas e vedação tipo calha. Nas laterais, há 30 janelas, três portas de loja e a porta principal. O prédio serviu como sede da Câmara e do Fórum de Minas Novas e, em 1856, quando o deputado Gabriel de Paula Fonseca apresentou à Assembleia Geral do Império projeto de lei propondo a criação da Província de Minas Novas – englobando o Sul da Bahia e o Norte - Nordeste de Minas Gerais, o Sobradão foi indicado para ser aproveitado como o Palácio do Governo.