Em um mundo em que receber um áudio com mais de cinco minutos no WhatsApp é considerado um grande incômodo e ouvi-lo sem acelerá-lo é quase uma sessão de tortura, o Grupo Quatroloscinco Teatro do Comum propõe exatamente o inverso em seu mais novo espetáculo, “Velocidade”, que estreia nesta quinta-feira (2) [sessões esgotadas] e segue até o dia 3 de fevereiro, no CCBB-BH.
O grupo entrou em consenso que gostaria de falar sobre o atropelamento voraz da vida contemporânea ao se provocarem com uma pergunta que representa o ponto de partida de praticamente todas as montagens do Quatroloscinco: “O que você quer dizer agora?”
A partir do questionamento, Laureano, juntamente dos outros fundadores, Assis Benevenuto, Marcos Coletta e Rejane Faria, apresentaram uns aos outros materiais como “artigos científicos, reportagens, filmes e por aí vai”. Dentre os conteúdos, destaca-se o texto “Notas Sobre os Doentes de Velocidade”, da mexicana Vivian Abenshushan. “A autora fala da construção de máquinas para desacelerar o tempo”, comenta Laureano.
Mas como transportar para a realidade um conceito tão abstrato? Com a ajuda da literatura, responde Ítalo Laureano. O espetáculo foi montado como as partes de um livro, com capa, prefácio, dedicatória, sete capítulos e verso da capa. “Com celular, e-book e audiobook, o livro está cada vez mais em desuso, no sentido de sua materialidade, e a literatura também é uma máquina de desacelerar o tempo, porque, quando você lê, se concentra no presente”, elabora.
Na montagem, um tampo solto se transforma em uma página de livro, em que os atores vão escrevendo, literal e metaforicamente, as situações que perpassam “Velocidade”, em contextos que abordam a interação humana com o tempo, questões familiares, rotina diária no sistema capitalista, relação com trabalho e morte.
O ator também explica que a montagem tem um “apelo onírico muito grande”. Mas se falta linearidade, sobra poesia. O grupo apostou muito mais no jogo de luz e sombra e sons do que em um cenário elaborado, contando, para isso, com velhos parceiros, como Marina Arthuzzi, que assina a iluminação, e Barulhista, responsável pela trilha sonora.
“Prezamos por criar uma ambiência audiovisual analógica, com imagens que lembram o cinematográfico e um áudio que tem um caminho muito próximo do cinema – tem trilha sonora praticamente no espetáculo inteiro”, conta.
Avatares em cena
Em cena, a atriz Michele Bernardino, que já substituiu Rejane Faria em “Tragédia” e “Ignorância”, se junta aos fundadores do Quatroloscinco. “É muito bom trazer a Michelle, que é uma geração mais nova que a nossa, para dar uma oxigenada. Ela é uma excelente atriz, que conhecemos quando dirigimos o espetáculo de formatura dela no Cefart”, salienta o ator e diretor Ítalo Laureano.
Ele destaca ainda que, ao juntar cinco atores em cena, o grupo reforça seu caráter de coletividade. “O Quatroloscinco é a possibilidade de pensarmos um mundo diferente, em que todos são pagos de forma igualitária e onde não há hierarquia. Mesmo que isso seja utópico na sociedade, conseguimos viver isso dentro do teatro”, esclarece.
Também fazem parte da montagem cinco bonecos, com cerca de 50 centímetros, cada um deles representando um dos atores. Confeccionados em madeira pelo artista Agnaldo Silva, os bonecos entram em cena para “conversar” com seus duplos.
SERVIÇO
O quê. Quatroloscinco estreia “Velocidade”
Quando. De quinta (2/1) a 3 de fevereiro, de sexta a segunda, às 19h.
Onde. CCBB-BH (praça da Liberdade, 450, Funcionários)
Quanto. R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada)
Fonte: https://www.otempo.com.br