"Primeiro foi necessário civilizar o homem em relação ao próprio homem.
Agora é necessário civilizar o homem em relação à natureza e aos animais."
(Victor Hugo)
No dia 28 de julho de 2010, o parlamento da Catalunha (uma comunidade autônoma espanhola) fez história ao aprovar uma lei que proíbe as touradas em seu território, que começará a vigorar a partir de 1º de janeiro de 2012. Assim sendo, passou a ser a segunda região espanhola a proibir as touradas, depois das Ilhas Canárias, em 1991.
Uma decisão sábia e exemplar, que uma vez mais comprova a mudança evolutiva pela qual vem passando o povo espanhol a respeito dessa nefasta “tradição destrutiva” denominada tourada. Em 2007, a TVE (televisão pública espanhola) já havia dado o bom exemplo ao parar de exibir as touradas à tarde, reconhecendo que a atividade era prejudicial à formação das crianças devido à crueldade envolvida nesse tipo de “entretenimento”. Ao que tudo indica, é uma tradição que está com seus dias contados.
Na Espanha, acontecem vários festejos taurinos (tauromaquia), mas os principais são os encierros (corridas nas quais as pessoas correm, a pé, junto aos touros pelas ruas) e as corridas de toros (touradas de arena). Na corrida de touros pelas ruas, não rara às vezes, quem acaba se dando mal são as próprias pessoas, que caem e são pisoteadas entre si ou pelos touros, e saem muito feridas, algumas vezes fatalmente. Não há sacrifício do animal nessas corridas. Entretanto, esses mesmos touros serão levados para as arenas e lá, sim, serão maltratados e, posteriormente, mortos.
Na tourada, propriamente dita, a crueldade com o animal inicia-se antes mesmo dele adentrar na arena. Ainda nos bastidores, ao que se sabe, ele apanha, as patas são lavadas com aguarrás (um tipo de solvente) para que não consiga ficar quieto, dão-lhe choques, tudo isso para ele “entrar em cena bufando de raiva”, passando a impressão de que é naturalmente perverso, bravo.
A intenção é passar a ideia de um embate entre o “vilão” (touro) e o “herói” (toureiro ou matador). Mas que, em verdade, não passa de um sadismo puro e cruel. Forjam uma situação em que o “vilão” nada fez de errado senão, coitado, ter nascido circunstancialmente num local cuja tradição considera-lhe a vida como insignificante e indigna de qualquer compaixão, e, o pior, denominam toda essa farsa lucrativa de “tradição cultural”. Maldito acaso! Maldita tradição!
A descrição do que se passa numa arena de tourada é repulsiva. Como se não bastassem os maus tratos às escondidas, acima citados, o touro é empurrado para a arena e, mais uma vez, sofre muito. Enquanto a primitiva plateia aplaude, o touro é ferido gravemente por armas pontiagudas, o seu olhar de sofrimento pede clemência, mas ninguém lhe socorre; já está condenado à morte. Talvez pressinta seu destino, mas, ainda assim, luta solitária e bravamente por sua sobrevivência. Num dado momento, já bastante ferido e sem forças, cai ao solo, a dor é presumível, a cena é de uma agonia tal que faz estremecer qualquer coração minimamente misericordioso.
É dessa forma, brutal e arcaica, que o inocente animal perece, enquanto o ignóbil público - cada vez mais escasso [estamos evoluindo!] - ovaciona o matador.
Mas isso não pode ser encarado como um esporte ou um espetáculo. Isso é tortura! E tortura não é Cultura! Nem nunca será! Avante!
por Luciano Caettano