Em 14 de abril de 1941, o presidente Getúlio Vargas baixou o Decreto-Lei 3.199, art 54, que proibia as mulheres de praticar esportes que não fossem "adequados a sua natureza". Apesar de não ser citado nominalmente, o futebol se enquadrava. Considerado um esporte violento e ideal apenas para homens, a prática feminina na modalidade foi cerceada por 40 anos, no momento em que apresentava franco crescimento. O documento completou 80 anos nesta quarta-feira.
Um ano antes da proibição, o futebol feminino era realizado longe de clubes ou grandes ligas. Diferentemente de como aconteceu o início do esporte para os homens, em que a prática era considerada de elite, as mulheres que aderiram ao futebol eram de classes menos favorecidas da sociedade. Por isso, as jogadoras da modalidade eram chamadas de "grosseiras, sem classe e malcheirosas".
Durante a Ditadura Militar, em 1965, o Conselho Nacional de Desportos (CND) citou nominalmente os esportes proibidos com "lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, polo-aquático, rugby, halterofilismo e beisebol”. A regulamentação do futebol feminino aconteceu apenas em 1983, apesar de oficialmente o fim deste decreto ter sido em 1979. Com isso, foi permitido que se pudesse competir, criar calendários, utilizar estádios, ensinar nas escolas. Clubes como o Radar e Saad surgem como pioneiros no profissionalismo.
A Seleção Brasileira feminina saiu do papel apenas em 1988. Formada, principalmente, por jogadoras do Radar, do Rio de Janeiro, e do Clube Atlético Juventus, de São Paulo. A primeira competição feminina organizada pela FIFA foi o Torneio Internacional de Futebol Feminino em Guangdong, na China, em 1988, preliminar ao primeiro Mundial oficial que aconteceria em 1991. O Brasil ficou em terceiro.
O decreto-lei sancionado por Getúlio Vargas foi responsável por atrasar diretamente o desenvolvimento do futebol feminino e até hoje vemos suas consequências. Além de ressaltar a diferença de salários, da cobertura e premiações, ainda fortaleceu o preconceito já embutido na sociedade, corroborando com a ideia de que o futebol não é um espaço para mulheres.