O sítio da família de Rafael Arcanjo, produtor de leite na comunidade de Gesteira, em Barra Longa (MG), foi impactado pelo rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, em novembro de 2015. Aos poucos, o local vem se transformando em referência na recuperação das terras degradadas pela lama, num trabalho que poderá se estender a todos as propriedades rurais ao longo do rio Doce.
Nas terras de Rafael começaram a ser testadas, em caráter experimental, soluções tecnológicas que serão apresentadas aos produtores da região impactada para que retomem as atividades agropecuárias. A iniciativa é fruto de uma parceria entre Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), Fundação Renova e Instituto BioAtlântica (Ibio). A ideia é que famílias rurais integrem a produção com a conservação ambiental, gerando benefícios sociais e econômicos.
Entre as soluções apresentadas, estão o manejo racional de pastagens com a melhoria da qualidade do alimento para a criação de gado, o uso e conservação do solo com a construção de barraginhas nas áreas de pastos (para captação de águas de chuvas) e a instalação de fossas sépticas para o tratamento do esgoto doméstico. As propostas foram apresentadas no 1º encontro de capacitação Terra Nossa, que pretende oferecer alterativas para recuperação das 279 propriedades atingidas.
A meta é melhorar a capacidade produtiva do solo, possibilitando o aumento da renda, caso seja o desejo das famílias. “Estamos confiantes de que essa experiência dará certo. É um projeto que fortalece o vínculo com os produtores, principalmente, com a troca de experiência entre eles”, explica Jucélia Leite, extensionista da Emater em Barra Longa.
“Sabemos que a região tem uma presença expressiva de pequenas propriedades e é interesse da Renova promover diálogo sobre essas tecnologias de manejo racional de pastagens, de saneamento rural e de uso e conservação do solo. Os primeiros resultados são positivos, mas temos que entender como essas tecnologias funcionarão em cada propriedade”, afirma o líder de Operações Agroflorestais da Fundação Renova, Thomas Lopes Ferreira
No sitio de Rafael Arcanjo, é possível observar os primeiros resultados alcançados com a recuperação da produção leiteira. Antes do rompimento da barragem, ele tirava 127 litros de leite por dia. Com o impacto da lama na propriedade, esse volume caiu pela metade. Agora, com a implementação do projeto, a produção retornou para cerca de 120 litros/dia. O resultado foi obtido com a garantia da pastagem verde e sustentável para alimentar o gado.
“No começo, quando essas técnicas foram apresentadas, admito que estranhei bastante. Porém, conversando com a minha família, entendemos que do jeito que estava não poderia ficar. Era preciso fazer algo. Então, resolvemos testá-las. Ainda é uma fase de experiência, tem alguns pontos a serem corrigidos e outros ajustes para fazer, mas estou gostando bastante dos resultados”, avalia o produtor.
As propostas surgiram após uma pesquisa sobre o modo de vida de cada produtor e quais recursos usavam em suas terras na região. A próxima etapa é seguir com as discussões com os produtores, em reuniões mensais de capacitação. O plano de recuperação de cada propriedade será traçado individualmente, de acordo com as características de cada uma.