Pedro Augusto Figueiredo e Bianca Gomes (Estadão Conteúdo)
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), tem resistido à pressão de bolsonaristas para intensificar os acenos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a campanha eleitoral. Aliados de Bolsonaro acreditam que essa estratégia poderia fortalecer a presença do prefeito nas redes sociais e ajudá-lo a enfrentar o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), que busca atrair o eleitorado conservador da cidade. Estrategistas do emedebista dizem, no entanto, que a campanha permanecerá focada nas questões da cidade, sem a nacionalização da disputa.
A avaliação de parte da ala bolsonarista é que mostrar as entregas da gestão Nunes dos últimos três anos não será suficiente para impedir o crescimento do influenciador nas pesquisas. O grupo aponta a necessidade de combater Marçal “no terreno dele” e defende uma estratégia digital que mobilize os eleitores de Bolsonaro por meio de vídeos e cortes feitos para viralizar nas redes sociais.
A campanha de Nunes, no entanto, segue apostando nas realizações da gestão como seu principal atrativo para conquistar votos. A estratégia é respaldada por pesquisas qualitativas internas, que mostram que o eleitor paulistano rejeita a nacionalização do pleito e busca um candidato independente de Bolsonaro e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Um dos principais aliados do prefeito com trânsito no bolsonarismo reconheceu ao Estadão que as redes sociais de Nunes precisam de mudanças. A avaliação dele é que o estilo dos vídeos e publicações reproduzem material de campanha feito para a televisão, mas que é necessário ajustar a forma para a comunicação digital e a dinâmica de compartilhamento das redes.
Diferente de outros correligionários de Bolsonaro, no entanto, este aliado considera que seria um erro tentar pintar o prefeito artificialmente como bolsonarista radical porque o movimento provavelmente soaria artificial e afastaria os eleitores do ex-presidente em vez de atraí-los.
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Enquanto Nunes resiste a mudar a estratégia nas redes, o pastor Silas Malafaia e os filhos do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro (PL) e Carlos Bolsonaro (PL) assumiram a linha de frente do embate com Marçal. Um dos temores do grupo, como mostrou o Estadão, é que o influenciador se cacife para disputar o Senado em 2026 por São Paulo e atrapalhe Eduardo, que é pré-candidato ao cargo.
A deixa para a ofensiva bolsonarista foi o fato de Marçal não encampar o movimento pelo impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. O jornal Folha de S. Paulo mostrou que Moraes ordenou, de forma não oficial, a produção de relatórios do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para embasar decisões no STF contra aliados de Bolsonaro.
Eduardo Bolsonaro publicou uma foto de Marçal ao lado de Moraes com uma declaração elogiosa do ex-coach ao ministro. Na mesma postagem, há uma notícia que mostra que Nunes é contra a descriminalização do aborto e uma foto dele com Bolsonaro.
“Estão me vinculando ao Marçal indevidamente através de cortes de vídeos meus. Então vou deixar cada vez mais claro meu lado e o motivo pelo qual tomei essa decisão. E você: Qual sua opinião sobre AM (Alexandre de Moraes)? Qual sua opinião sobre aborto?”, escreveu.