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“Se ficássemos calados, seríamos coniventes”, comentou a casa de análises Spiti ao descrever seu documentário ‘Money Dopers — A Jornada do Fracasso’. Trata-se de uma ação com intuito de abrir os olhos de milhares de brasileiros iludidos pelo day trade, bem como fazer os iniciantes sentirem na pele como é cair em uma cilada.
A peça pode ser vista como um alerta para quem deseja se aventurar na profissão, mas também pode ser usada como arma contra falsos traders ‘vendedores de cursos’ que vivem da venda, não do trade. Como descreveu a Spiti, “o day trade do carro de luxo alugado, da ostentação e das promessas”.
O documentário contou com uma participação de peso, de Henrique Bredda, um dos maiores gestores brasileiros de fundos. No decorrer da peça, ele e outros especialistas comentam sobre fatores que rodeiam a profissão, principalmente o risco, onde pessoas físicas ‘viciadas em dinheiro’ (tradução para ‘money dopers’) perdem a luta por uma vantagem que sempre cairá nos braços dos grandes traders do mercado, as instituições.
O analista Alex Martins comentou: A imagem que as pessoas têm de viver de day-trade é você operar todo dia 15, 10 minutos, e que a sua vida ali vai tá resolvida. É duro falar isso, mas isso não existe”. Conforme relata no vídeo, no começo da carreira, Alex perdeu quase R$ 1 milhão em apenas uma operação, justamente por não conhecer o mercado.
É o apelo do “lucro rápido”, do “lucro fácil”, disse a analista de ações Aline Tavares, sobre a corrida por ganhos rápidos que foi acentuada após o início da pandemia, quando as pessoas perderam renda e passaram a ficar mais em casa.
Para Isabella Paschuini, especialista em Economia Comportamental, o comportamento do day trade é parecido com o dos jogadores de loteria, pois ambos navegam em constantes oscilações de sentimentos. E isso, para Bredda, é movido a cortisol, a dopamina, por uma “piscina de hormônios”.
Day trader no Brasil
Em resumo, o documentário vai ao encontro de estudos de especialistas que comprovaram em números que a maioria dos day traders falha. No mês passado, o trabalho de Giovannetti com o também professor da FGV, Fernando Chague, mostrou que mais da metade dos day traders experientes perde dinheiro na Bolsa de Valores brasileira e somente 7% ganha acima de R$ 10 mil por mês.
Os especialistas consideraram apenas investidores experientes, que fizeram operações diárias nos mercados de ações, mini-índice e mini-dólar entre 2012 e 2017, em pelo menos 90% dos 72 meses desses seis anos.
Um estudo de 2019 mostrou que menos de 1% dos day traders conseguem lucro. O relatório foi publicado em forma de um artigo intitulado ‘É possível viver de Day Trading?’.Na época, o trabalho recebeu elogios do economista Samy Dana, que ironizou ao sugerir que o artigo deveria se chamar “morrer de trading”.
No ano passado foi publicada uma nova análise, que pela conclusão não parece ter mudado muito quando foram incluídos trading dos anos 2016 e 2018. Os resultados pioraram: mais de 99% dos day traders no Brasil têm prejuízo.