A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, deixa amanhã o cargo após dois anos à frente do Ministério Público Federal (MPF). Quem assumirá o cargo interinamente é o vice-presidente do Conselho Nacional do Ministério Público, o subprocurador-geral Alcides Martins, já que Augusto Aras, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro, ainda será sabatinado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Nos últimos meses, Dodge perdeu protagonismo, enfrentou uma crise institucional e presenciou a entrega de cargos no núcleo da Lava-Jato em Brasília.
No entanto, dias antes de deixar o posto, a procuradora-geral agiu para se reerguer, se manifestando de forma contundente pela independência do Ministério Público, pedindo ao Supremo Tribunal Federal (STF) para “proteger a democracia” e deixando claro que as ações de sua gestão ainda vão repercutir nos próximos meses.
De acordo com dados do MPF, durante a gestão Dodge, foram apresentadas 63 denúncias junto ao STJ e ao STF, além de outras ações. A procuradora foi alvo de críticas internas diante da discussão sobre o fim do auxílio-moradia, que chegou ao Supremo e repercutiu nos demais poderes, inclusive no Ministério Público. De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), R$ 53 milhões destinados ao pagamento do benefício aos procuradores foram remanejados para outros custos, com a finalidade de cumprir o teto definido na Emenda Constitucional nº 95.
Ao se despedir do cargo, Dodge rebateu acusações de que freou investigações e que não prestou o apoio necessário para o avanço da Lava-Jato. “A maior parte das peças que ajuizei aqui no STF estão sob segredo de Justiça, são sigilosas, e, no tempo próprio, elas expressarão.
O empenho com que eu trabalhei no enfrentamento da corrupção naquilo que me cabe de atuação originária aqui no Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, e no tocante a atuação dos meus colegas do MP brasileiro, tenho certeza que dei a eles toda a estrutura necessária para o enfrentamento à corrupção”, disse Dodge. Ela também alegou que mobilizou a estrutura do Ministério Público para garantir o cumprimento das diligências. “Eu ampliei o número de procuradores em todas as forças-tarefas da Lava-Jato, seja a do Paraná, seja a de São Paulo, do Rio de Janeiro, e deferi todos os aumentos de verbas necessários”, completou.