O presidente Jair Bolsonaro defendeu, no discurso da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a soberania sobre a região amazônica brasileira, sustentou que as informações sobre as queimadas na Amazônia foram inflacionadas pela mídia internacional, alfinetou o presidente da França, Emmanuel Macron, fez duras críticas às ditaduras venezuelana e cubana, e sinalizou medidas tomadas para a retomada da economia. Como era esperado. A fala, no entanto, não foi totalmente pragmática. O chefe do Executivo federal defendeu os valores cristãos, criticou ideologias e o multilateralismo, ao pedir apoio para a ONU “ajudar a derrotar” tal ambiente que, para ele, “compromete alguns princípios básicos da dignidade humana”.
O discurso iniciou com críticas às gestões petistas, sugerindo que os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff tentaram implementar um regime socialista no Brasil. Manifestantes protestam em frente à ONU durante discurso de Bolsonaro Usou o programa Mais Médicos, implementado em 2013, para fazer a associação. “Meu país esteve muito próximo do socialismo, o que nos colocou em situação de corrupção generalizada, grave recessão econômica, altas taxas de criminalidade e de ataques ininterruptos aos valores familiares e religiosos, que formam nossas tradições.
Em 2013, o acordo entre o governo petista e a ditadura cubana trouxe ao Brasil 10 mil médicos sem nenhuma contribuição profissional”, disse. Com essa narrativa, ele criticou a ONU, ao citar que as Nações Unidas e entidades de direitos humanos respaldaram o Mais Médicos, e emendou em críticas à Venezuela. “Outrora um país pujante e democrático, hoje, experimenta a crueldade do socialismo. O socialismo está dando certo na Venezuela. Estão pobres e sem liberdade. O Brasil também sente os impactos da ditadura venezuelana.
Dos mais de 4 milhões que fugiram do país, uma parte migrou para o Brasil, fugindo da fome e da violência”, sustentou Bolsonaro. Ao comentar sobre a Amazônia, disse que o governo tem “compromisso solene” com a preservação do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável em benefício do Brasil. Acrescentou que o país é um dos mais ricos em biodiversidade e riquezas minerais e que a Amazônia é “maior que toda a Europa Ocidental”. “E permanece praticamente intocada. Prova de que somos um dos países que mais protege o meio ambiente”, destacou. Soberania Na fala sobre a região amazônica foi onde ele criticou Macron, de forma velada, sem citá-lo nominalmente. “É uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade.
E o equívoco como atestam cientistas de firmar que a Amazônia, nossa floresta, é o pulmão disso. Valendo dessas falácias, um ou outro país, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da mídia e se portou de forma desrespeitosa e com espírito colonialista. Questionaram aquilo que nos é mais sagrado, a nossa soberania. Um deles, por ocasião do encontro do G7, ousou sugerir sanções ao Brasil sem sequer nos ouvir”, criticou. O presidente ressaltou que o país tem, hoje, 14% do território nacional demarcado por terras indígenas e não ampliará as áreas demarcadas para 20%, como, segundo ele, desejam alguns chefes de Estado. Bolsonaro cita que a ONU teve papel fundamental na superação do colonialismo e não pode aceitar que tal mentalidade regresse sobre qualquer pretexto.
“A França e a Alemanha, por exemplo, usam mais de 50% de seus territórios para a agricultura. Já o Brasil usa 8% de terras para a alimentação. 61% de nosso território é preservado. Nossa política é de tolerância zero para com a criminalidade, aí incluídos os crimes ambientais”, disse. Afagos e ideologismo Ao longo das falas sobre a Amazônia, Bolsonaro fez afagos ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O gesto era esperado, em uma sinalização de alinhar mais a proximidade entre os governos brasileiro e norte-americano. “Agradeço aqueles que não aceitaram levar adiante essa absurda proposta (de internacionalização da Amazônia, sugerida por Macron, que inflamou em Bolsonaro a defesa da soberania).
Em especial ao presidente Donald Trump, que sintetizou o espírito de respeito à liberdade e soberania de cada um de nós”, comentou. No fim do pronunciamento, Bolsonaro faz críticas ao politicamente correto e ao que ele classificou como ideologismo. Nesse tom, ele abandonou o pragmatismo e criticou nominalmente as Nações Unidas. “A ideologia invadiu a própria área do mundo para expulsar Deus e a dignidade com que ele nos revestiu. Com esses métodos, essa ideologia sempre deixou um rastro de morte e ignorância por onde passou. Sou prova disso, fui covardemente esfaqueado por um militante de esuqerda e só sobrevivi por um milagre de Deus. (...) A ONU pode ajudar a derrotar o ambiente multilateralista e ideológico, que compromete alguns princípios básicos da dignidade humana. Essa organização foi criada para promover a paz entre nações soberanas e progresso social conforme o preâmbulo de sua carta”, criticou.