O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, está preocupado com a possibilidade de a reforma administrativa não ser enviada nesta semana para a Câmara. O Poder360 apurou que parte do governo está com receio que mais uma reforma possa provocar alguma faísca que resulte em protestos de rua, como os do Chile e da Bolívia.
Ele estava nos Estados Unidos porque recebeu 1 prêmio do Brazil Institute, do Wilson Center, tradicional instituição de pesquisa sobre assuntos internacionais e políticas públicas. Ao ser indagado sobre a possibilidade de o Planalto adiar o envio da reforma administrativa, o presidente da Câmara reagiu da seguinte forma: “Acho que vai ser muito ruim não apresentar a reforma administrativa. O nosso acordo com a equipe econômica é a Câmara receber a administrativa e já tratar da tributária com o Senado. As outras 3 PECs (do pacto federativo) foram para o Senado.
Não enviar a administrativa será uma sinalização péssima porque demostrará que não há prioridade na recuperação da qualidade da gestão pública, que deve ser prioridade deste e de qualquer governo”. Maia tem se apresentado como contraponto ao governo Bolsonaro em alguns momentos. Sua declaração sobre a necessidade de a reforma administrativa ser apresentada já tem relevância semelhante ao forte discurso que o presidente da Câmara fez ao receber o “Woodrow Wilson Award for Public Service” (Prêmio Woodrow Wilson pelo Serviço Público), em 15 de novembro de 2019, na última 6ª feira.
Diante de uma plateia de empresários (muitos brasileiros), Rodrigo Maia apresentou ideias liberais para reafirmar suas convicções no comando da Câmara. Eis alguns trechos do que disse Maia (aqui, a íntegra): Respeito às diferenças – “Os sinais aparecem a todo tempo e eu sempre busco interpretá-los (…) Recebo esta homenagem em nome de todos os parlamentares brasileiros. Dos que pensam como eu, mas também dos que pensam diferente de mim (…) Para os que me elogiam, mas também para os que me criticam.
Aceito e dependo do contraditório. O homem público tem a obrigação de aceitar outros pontos de vista, de acolher as diferenças”; Liberalismo – “O principal produto que importamos dos EUA é o modelo de democracia liberal. A crença na independência dos poderes; a visão de que os poderes devem se fiscalizar para impedir que um se sobreponha ao outro; a luta federalista de independência dos estados; e o respeito divino à Constituição são, na minha opinião, a maior contribuição deste país para o mundo. Não existe democracia que não seja a democracia liberal.
A democracia não é o regime da maioria, é, sobretudo, o regime que protege as minorias”; Brasil & EUA – “Desejo que os laços do Brasil e dos Estados Unidos se fortaleçam cada vez mais baseados nos valores que comungamos em conjunto. Nossa balança comercial será mais forte se as democracias forem mais fortes; nosso turismo será mais pujante se nossas instituições forem mais sólidas”; Liberdade – Aqui, 1 recado direto para a ala mais linha-dura do governo Bolsonaro:
“Carrego comigo uma frase sublime do John Adams que cai como uma luva nos dias de hoje: “Você nunca saberá quanto custou à minha geração preservar a SUA liberdade. Espero que você faça bom uso disso”; Congresso e ponderação – “Este é o melhor momento do Parlamento brasileiro em décadas. Somos a voz da razão; somos o distensor dos conflitos; somos o ponto de equilíbrio tão necessário para encontrar as saídas”; Nacionalismo e xenofobia – Outro recado para parte dos integrantes do governo Bolsonaro, sobretudo o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo: “Se há alguma vantagem em estar vivo hoje é lembrar das consequências do nacionalismo, do preconceito, da xenofobia e do desprezo pela ciência.
A história se repete em ciclos; depende agora de todos nós que estamos aqui fazer com este ciclo seja lembrado no futuro pelos valores sagrados da democracia liberal que nos unem”.