A defasagem do valor do café no mercado tem causado apreensão nos produtores mineiros. O preço médio do grão não tem coberto sequer os custos de produção, segundo representantes do setor reunidos, nesta segunda-feira (27/5/19), em audiência pública da Comissão de Agropecuária e Agroindústria da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). O preço mínimo da saca de café arábica na safra 2019/2020, definido como referência pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), é de R$ 362, enquanto os gastos envolvidos na produção seriam ao menos R$ 30 superiores. A variedade arábica, de maior qualidade, é a predominante em Minas, Estado responsável por mais da metade da safra nacional. O preço médio de venda é influenciado pela oferta do produto e pela sua cotação na bolsa de Nova Iorque. Ou seja, a despeito da situação dos produtores mineiros, o valor sofre grande influência do mercado externo. Para reverter esse quadro, os deputados Antonio Carlos Arantes (PSDB), que solicitou o debate, Bruno Engler (PSL) e Professor Cleiton (DC) cobraram políticas públicas de apoio e proteção ao setor em Minas. Antonio Carlos Arantes ressaltou que o atual modelo econômico cada vez mais asfixia o produtor, que fica com uma pequena parte dos ganhos auferidos em um mercado bilionário. Nesse sentido, Professor Cleiton sugeriu a desoneração de insumos agrícolas, bem como investimentos na melhoria de rodovias do Sul de Minas, essenciais para o escoamento dos grãos, e na produção de café de maior valor agregado, o chamado café gourmet. O deputado citou o exemplo da Alemanha, que não possui plantações de café, mas ocupa lugar de destaque no setor. O país lucra com a transformação do café importado em cápsulas, que têm valor de mercado 70 vezes maior. Economia mineira – A importância do café para a economia mineira, principalmente em um momento de fragilidade do seu maior pilar, a mineração, foi lembrada tanto por Professor Cleiton quanto por Bruno Engler. Presidente da Associação dos Cafeicultores do Brasil (Sincal), Armando Mattiello salientou que a adequação do valor de mercado do produto poderia trazer bilhões para o Estado. Minas Gerais produziu cerca de 30 milhões de sacas em 2018. Associação sugere criação de entidade internacional A Sincal encaminhou à comissão um documento com propostas para o setor. Uma das principais pautas da associação é a criação de uma organização dos países produtores de café, que teria quatro objetivos principais: garantir valores de venda superiores aos custos de produção, fomentar o aumento do consumo do produto, criar estoques estratégicos e planejar a produção, para que a oferta não fique muito acima da demanda. “O café pode ser um instrumento de produção de riqueza”, afirmou Marco Antônio Jacob, diretor da associação. Segundo ele, o produto, refém da especulação na bolsa, sofreu uma depreciação de 75% de 1982 para cá. O valor artificial se dá, ainda de acordo com Jacob, pela superoferta de papéis que não correspondem às sacas realmente produzidas. Os representantes da associação também salientaram o potencial de crescimento do mercado de café, uma vez que apenas um quarto da população mundial consumiria o produto. Executivo reconhece importância do setor Assessor da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Níwton Moraes garantiu que o setor recebe uma atenção especial na pasta. Como exemplo de políticas públicas voltadas ao segmento, ele citou a Semana Internacional do Café, com a promoção de café mineiros e o contato direto entre produtores e compradores estrangeiros; programas de certificação do processo produtivo, para garantir maior valor aos produtos de maior qualidade; e a edição de uma norma pelo Executivo estadual que determina a compra de cafés superiores nos órgãos da adminstração pública, para disseminar a cultura do consumo de um bom café. Financiamento – Rubens José Brito, gerente-geral de Planejamento do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), apresentou as ações do banco de incentivo e fomento à cafeicultura, entre as quais o aumento de 37% de desembolso para o setor na última safra e a destinação de 16% dos recursos disponibilizados pela instituição em 2019 para o mercado do café, o qual recebeu R$ 760 milhões da verba alocada pelo banco nos últimos quatro anos.
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