No dia 13 de janeiro deste ano (sábado), fui a uma festa num local denominado “Curva de Rio” - uma fazenda aqui em Araguari, que fica próxima ao Presídio, no bairro Parque dos Verdes. Até então era uma festa supostamente organizada, com grupo no Whatsapp e lista de convidados. Tudo sob controle, pensei.
No entanto, quando chegamos no local, por volta da meia-noite, tinha uma fila de gente para entrar. Nessa hora, ficamos sabendo que não havia mais lista de convidados, que bastava pagar e entrava. Claro, bateu um certo receio na gente, mas como aparentemente estava do mesmo jeito de sempre, isto é, uma bagunça organizada, entramos.
Um adendo: todas as festas que eu havia ido lá, umas sete por aí, pagava-se em torno de R$ 40,00 (quarenta reais) e era open bar. Não era o ambiente mais seguro do mundo, mas nunca tivemos problemas com briga nem nada disso. Essa última, especificamente, não estava sendo realizada pelos proprietários do local, mas fora cedido para uma jovem comemorar o seu aniversário, daí a lista. Os “convidados” levavam a própria bebida. Era o tipo de festa que chamamos de “resenha”. Não tinha banda, apenas som automotivo.
Já no interior da festa, ficamos do lado aposto ao dos carros de som, num canto. Estávamos em dois carros. Comigo estavam três amigas e, no outro carro, quatro amigos.
De repente, uma hora da manhã, por aí, um rapaz passou e deu de ombro em mim. Eu empurrei ele tipo “cuidado aí!”. Mas não teve nada. Aparentemente ele havia esbarrado sem querer (mas não tenho certeza!).
Mais tarde, umas três e pouco da manhã, três jovens pararam na minha frente - todos de bonezinho aba reta e blusa de capuz, daquele tipo manjado que paga de bandido - e um deles falou assim pra mim “você mexeu no cabelo da menina ali”. Quando eu fui responder que não, que eles estavam enganados, eu já tomei um soco no nariz. Aí eu afastei e falei “mas eu não fiz nada”, e tomei uma pancada do lado esquerdo da cabeça, na região temporal, que abriu um corte suficientemente grande para dar pontos, ato contínuo, tomei um chute no tornozelo do pé direito, que quebrou na hora. Caí, mas graças a Deus, consegui levantar e correr.
Eu queria sair dali de qualquer jeito, porque era óbvio que eles não queriam conversa, não havia a menor hipótese de eu esclarecer nada. Então, conseguir correr para o fundo da festa (onde estavam os carros de som), tentando fugir deles. Nesse meio tempo, alguns amigos e conhecidos tentaram impedir que esses caras continuassem me batendo. Mas eles estavam armados. Inclusive, um deles apontou a arma para dois amigos meus e atirou, mas a arma travou na hora. Olha a gravidade da situação!
Quando cheguei no fundo da festa, o dono de um dos carros virou pra mim e falou “sai daqui de perto do meu carro”. Eu estava todo machucado, mas respondi “eu não fiz nada!”, aí ele “sai daqui, e me empurrou”. Isso, depois de tudo, doeu mais que as pancadas que levei, tamanha a desumindade desse cidadão.
Nessa distração, de poucos segundos, os agressores me alcançaram e eu tomei mais um soco no nariz. Nessa hora, desesperado, todo ensanguentado e tornozelo quebrado, não tive alternativa senão correr para o mato que havia lá. Desci correndo e enfiei no meio do capinzal, e fiquei agachado. Adrenalina a mil. Por sorte, eles não foram atrás de mim. Naquele escuridão, sozinho, eu só falava “Deus me ajuda!”, sem parar, e chorava muito, porque eu estava indignado com tamanha covardia.
Fiquei olhando se ninguém ia vir atrás de mim. Rapidamente a festa foi encerrada. Tudo isso que aconteceu comigo foi no prazo de uns dois minutos, entre eu apanhar e correr para o mato. E levou mais uns dois para a festa ser encerrada. Fiquei escondido uns dez minutos, por aí. Os amigos que me viram fugindo, ficaram agoniados, porque não sabiam da minha real situação. Alguns me ligavam, mas eu não podia atender, para não fazer claridade no mato, pois eu não sabia se os malas estavam por perto. Tirei a camisa, limpei o rosto e fiquei evocando, em voz baixa, a proteção divina. Quando vi que estava tudo bem, fui subindo devagar. Um dos meus amigos me viu, fez sinal para esperar, olhou ao redor e viu que estava tudo bem, e sinalizou para eu me aproximar. Finalmente eu estava perto dos meus amigos. Tudo mundo indignado e ao mesmo tempo agradecido por não ter sido fatal. Eu realmente estava bastante ferido: no corpo e na alma.
O que fizeram comigo não se faz nem com bicho! A situação foi mais ou menos parecida com o que passam alguns homossexuais, quando um demônio homofóbico desses que tem por aí os aborda do nada e lhes batem. Covardia pura!
No meu caso, a teoria mais provável é a de que me tacharam de playboy, coisa que nem sou, e me bateram por isso. Mas sei lá. Pode ser como algumas pessoas disseram também, que eles não precisam de motivo para fazer o que fizeram. Só sei que eu não mexi com ninguém, não falei nada para ninguém naquele dia, a não ser com meus amigos e amigas. E apanhei como se eu não fosse ninguém também.
É angustiante demais saber que somos obrigados a conviver com esses demônios. Monstros que saem de casa apenas para fazer o mal; que não respeitam nada nem ninguém.
Eu passei por uma experiência que me fez restringir ainda mais as festas que eu devo ir. Faz tempo que eu já não vou em festa de forró, principalmente de roça, porque sempre dá briga, sempre! E os caras costumam implicar com pessoas como eu. Então, não vale à pena o risco.
Já finalizando, quero contar um fato curioso. Nessa festa, eu recebi, pelo menos, quatro sinais para eu ir embora, mas os ignorei. Eu sou espírita e deveria ter dado atenção a eles, todavia falhei miseravelmente.
O primeiro sinal chegou até mim através de um dos donos da fazenda. Ele chegou em mim, pôs o braço no meu ombro e perguntou o que estava achando da festa. Eu respondi “cara, tá bom, tá animado, mas o ruim é essa malaiada”. Ou seja, eu já tinha reparado que o ambiente não estava adequado. Mas ignorei isso. O segundo sinal veio através de uma das meninas que estava comigo de carona. Era a primeira vez que ela estava indo lá. Perguntei o que ela estava achando e ela foi bem clara em dizer que não estava se sentindo bem, que não estava conseguindo curtir, e se mostrou visivelmente incomodada. Era a hora deu dizer: “Realmente, isso aqui não é pra gente não. Vamos embora!”. Mas não, ignorei o sinal dela. O terceiro, meio inusitado, veio através de um dos amigos que estava no outro carro. Ele veio até mim, me abraçou de lado e começou me elogiar, dizendo que eu era um cara “diferenciado”, que tinha o coração bom, etc, como se estivesse se despedindo de mim. Agradeci o elogio dele, mas não me toquei de nada. E o último, esse já bem próximo das agressões, veio através de outra amiga que estava comigo. Ele chegou em mim e perguntou “Snyper (meu apelido), você já está querendo ir embora?” Assim do nada. Achei estranho ela perguntar, mas, infelizmente, respondi que não, que “tava de boa”. Não passaram nem cinco minutos depois disso e eu quase morri.
Apesar de ter quebrado o tornozelo e passado por todo esse sufoco, graças a Deus estou bem. Evidentemente a tragédia poderia ter sido bem pior, pois os malas estavam armados. Graças a Deus a arma falhou quando eles atiraram nos meus amigos! Sou muito grato por ninguém, além de mim, ter se machucado.
Nesses dias que estou afastado do serviço, conversei com muitas pessoas, recebi muita força, muita mensagem linda!, um carinho enorme de muita gente! Pessoas com as quais eu nem tinha muita intimidade se solidarizam comigo. Consegui muletas através dos amigos e da caridade alheia. E são justamente essas pessoas, meus amigos e principalmente a minha mãe!, que justificam o título desse texto. Enquanto existem os demônios, tais como os malas que me bateram, existem igualmente os anjos, que me acolheram e me ampararam nesse momento de dor.
Eu sei que todo mundo que tem contato com essa história fica indignado, uns mais que outros, e é natural que algumas pessoas pensam em vingança. A vocês, meus amigos ou não, que pensam que eu deveria ir atrás disso, lhes digo: meu mestre é Jesus. Ele me ensinou o perdão, e não a vingança. A situação que eu passei me mostrou que quem me bateu não tem nada a perder. Mas eu tenho, e muito! Principalmente a minha paz. Eu não quero ir atrás disso, achar os caras e depois não poder mais sair na rua, com medo deles me matarem. Como é uma situação muito grave, deixo nas mãos de Deus. A Justiça divina é perfeita e eu confio nela. Os agressores tinham a liberdade de escolher entre me bater ou não fazer nada. Eles fizeram a escolha deles e hão de arcar com as consequências. Lei de Causa e Efeito.
Por mais incrível que pareça, no domingo (dia 14), quando fui tomar banho, eu orei à Deus agradecendo pela vida que me foi poupada e pelos meus amigos estarem bem, porque eu tinha ficado sabendo da arma de fogo. Mas orei também pelos agressores. Pedi à Deus que, de alguma forma, a minha oração tocasse o coração daqueles que me fizeram o mal, para que, ainda que minimamente, os fizesse refletir sobre a covardia que eles haviam cometido e que não fizessem isso mais.
Eu sou assim, uma pessoa do bem. Não tenho inimizade com ninguém. Não tenho nenhum inimigo (pelo menos não declarado). E esse fato (violência contra mim), embora extremamente grave e revoltante, não vai mudar isso. Na minha filosofia de vida, acredito naquilo que disse, certa vez, Gandhi: “Olho por olho, e o mundo acabará cego”. E os perdoei, não porque eles estão certos, mas para eu ser livre. Que Deus nos abençoe! Um brinde à nossa vida! Fique bem. Avante!