Não associar corrupção e política tornou-se algo praticamente impossível no Brasil. Por aqui, é lugar-comum dizer que “todo político é ladrão”, dado às incontáveis comprovações de que vivemos num dos países mais corruptos do mundo. Mas não adianta querer tampar o sol com a peneira. Se a nossa classe política é formada por um antro de desonestos, é porque nós, brasileiros, somos um povo desonesto, e ponto.
Em meio a essa podridão moral que é o Brasil, está o famoso (e deplorável!) “jeitinho brasileiro”, disfarçado de “favorzinho”, de “ajudinha”, de um “cafezinho”, do qual faz parte o voto vendido ou trocado por mercadoria. Um pernicioso toma-lá-dá-cá.
Por isso, o egoísmo e a ganância de gente desonesta, e isso independe de classe financeira, permitem que políticos ladrões, que são o espelho do próprio cidadão que se corrompe, se elejam.
O político ladrão entra no sistema e, ao invés de trabalhar para o bem do povo, ele vai desviar dinheiro público ou fazer negociatas para seu benefício próprio e de seus asseclas, visando a permanência no poder, prejudicando, sem o menor pudor, toda uma coletividade. E tem sido assim por séculos aqui no Brasil.
Mas toda causa tem um efeito. Então, esse caos que vivemos politicamente, mas que reflete, com destaque, na saúde, educação e segurança pública é o efeito óbvio daquilo que vimos causando todo esse tempo pondo bandidos para nos governar.
Na verdade, somos cercados por desonestos desde criança e não se tornar um deles parece uma missão impossível para nós, porque carecemos de bons exemplos para nos manter direitos.
É por essas e outras que discutir política no Brasil é essencial. Passou-se da hora de separar o joio do trigo. Aos bons políticos, nossa confiança. Aos maus, as penas da lei!
Queremos CPIs (Comissão Parlamentar de Inquérito) funcionais. E não essas que temos visto, as quais poderíamos denominar hoje de “Corruptus Politicus Impunis”, cujos processos geralmente acabam em pizza (mal investigados, prescritos, anulados...). Queremos punições de verdade! Gente corrupta (graúda) cumprindo pena, à exemplo do que vem acontecendo na abençoada Operação Lavajato.
A falta de educação política é um dos fatores que torna o cidadão propenso a não exercer a sua cidadania. O governo não instrui o povo como deveria, evidentemente porque a desinformação deste lhe convém. Além disso, outro fator contributivo à corrupção é a falta de critérios a serem exigidos dos ocupantes de cargos em comissão e de assessoramento.
No caso de assessores e secretários, sobretudo à nível municipal, em que a exigência de qualificação profissional é (praticamente) nula, vemos verdadeiras aberrações ocupando cargos públicos. Na mais das vezes, são cargos ocupados por pessoas com nível de escolaridade baixo, às vezes semi-alfabetizadas, de notória incapacidade intelectual, preguiçosas, cuja pobreza curricular não lhes garantiria nenhum emprego importante na atividade privada, mas que para sorte deles e azar nosso o serviço público (devido à falta de critérios) estende as tetas para dar-lhes de mamar. E eles se deleitam, sem o menor pudor, na função ocupada de forma oportunista, advinda do conluio político, fruto da imoralidade e da antiética. Isso precisa acabar urgentemente!
Quanto ao nível de corrupção no Brasil, não existe nenhuma pesquisa ou meio oficial que demonstre estatisticamente em que pé anda a prática desse crime por aqui. Isto é, não existe um “corruptômetro”. Existem alguns levantamentos com base em médias de julgamentos pela Justiça, mas tudo muito oficioso.
Na verdade, é a mídia (jornais e revistas) que nos dá a noção desse panorama, o que segundo consta não é nada bom. Contudo, particularmente tenho a impressão de que temos avançado (mal e lentamente, mas temos) rumo a um amadurecimento político, nos últimos anos.
Não sei se concorda, mas na última eleição para presidente do Brasil (2014) eu senti o povo muito mais envolvido politicamente. Eu vi e-mails sendo repassados, vídeos informativos (às vezes até denunciativos) sobre candidatos e suas metas sendo divulgados, protestos nas redes sociais, etc. Para esse ano a minha impressão continua a mesmo sobre o engajamento das pessoas. Ainda tem muita quantidade e pouca qualidade no debate, mas a sensação minha é de muito otimismo.
Como falar de corrupção é falar de poder, cabe aqui um relato sobre a história romana. Segundo consta, o escravo encarregado de segurar a coroa de louros sobre a cabeça do general romano vitorioso deveria pronunciar, repetidamente, ao seu ouvido, durante a cerimônia do "triunfo" (homenagem que os cidadãos romanos a ele prestavam quando entrava em Roma desfilando a frente do seu exército): "Não se esqueças que és humano!".
Veja que advertência maravilhosa! Leve-a consigo em sua vida e, uma vez diante do poder, nunca se esqueça que você é um ser humano e que como tal deverá portar-se perante os seus subordinados e/ou governados. Pois é isso que esperamos de nossos representantes, de nossos líderes: humanidade!
Superar a corrupção é sim um trabalho de formiguinha, mas que deve ser energicamente realizado, porque vale à pena o esforço. Embora pareça improvável, é possível sim que um dia tenhamos políticos incorruptíveis no poder. Se aprendemos a ser desonestos, aprenderemos a ser honestos. Avante!