Bolsonaro não conseguiu esconder a insatisfação com Abraham Weintraub, depois de ele ter ido a um ato pró-governo, no último domingo (14), e reiterado as ofensas que fez aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) durante a reunião ministerial de 22 de abril. Para o presidente, o ministro da Educação criou mais um problema desnecessário ao governo. Em meio aos insistentes rumores de que Weintraub será demitido, Bolsonaro admitiu que busca “uma maneira de contornar” o mal-estar, de forma que o ministro não o deixe o governo pela porta dos fundos — o que criaria um problema sério com a ala olavista e com os filhos 02 (o vereador Carlos) e 03 (o deputado Eduardo), ferrenhos defensores da atuação ideológica do titular da Educação.
“Ele não foi muito prudente em participar dessa manifestação, apesar de nada de grave ele ter falado ali. Mas não foi um bom recado, porque ele não estava representando o governo. Ele estava representando a si próprio. Então, como tudo que acontece cai no meu colo, mais um problema nós estamos tentando solucionar: o senhor Abraham Weintraub”, afirmou.
Há uma pressão sobre o presidente para que demita Weintraub, com o intuito de manter de pé as frágeis pontes que ainda ligam o Palácio do Planalto ao STF e ao Congresso. Segundo interlocutores palacianos, a saída do ministro é vista com um aceno de Bolsonaro para amenizar o conflito entre os Poderes e mostrar que o presidente não endossa os ataques à Corte. Integrantes do Planalto dizem também que militares e políticos com trânsito no governo alertaram o presidente que ficará muito ruim para o governo se o STF, que investiga o ministro no âmbito do inquérito das fake news, pedir a prisão dele.
No fim de semana, Weintraub voltou a classificar os ministros do Supremo como “vagabundos que deveriam estar presos”, apesar de não ter se referido diretamente aos ministros da Corte. Há quase dois meses, no encontro de Bolsonaro com o alto escalão do governo, o ministro disse que, por ele, “botava esses (os integrantes do STF) vagabundos todos na cadeia”. O episódio, que deu início a uma crise institucional e trincou a harmonia entre os Poderes, chegou ao conhecimento público depois de o ministro Celso de Mello, decano do Supremo, divulgar quase toda a gravação daquela reunião ministerial. De acordo com Bolsonaro, o conteúdo da fita criou uma dor de cabeça ao governo federal justamente pelo comportamento de Weintraub.
“Lamentavelmente, o ministro Celso de Mello decidiu tornar pública toda a sessão que, em parte, agora, causa um problema para a gente. Ou seja, uma reunião reservada, que foi aqui carimbada como secreta para nós, foi divulgada do outro lado, no meu entender, sem a devida responsabilidade. Aí vem mais uma crise nova, que deságua em cima do ministro da Educação. Estamos buscando uma maneira de contornar isso aí”, disse o presidente.
A expectativa nos bastidores do STF é de que o ministro seja exonerado em breve. Weintraub não dispunha da simpatia dos magistrados e é considerado por parte deles como um ministro que não está à altura do cargo que ocupa. A relação com a Corte, que não era das melhores, piorou após os insultos.