O clima hoje no Congresso Nacional é de que nenhum pedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que tenha como base as declarações do ex-ministro da Justiça e Segurança Púbica Sergio Moro vai ter andamento.
Além de não ter número suficiente de parlamentares apoiando, internamente, a rejeição ao nome do ex-juiz é muito maior que o desejo de qualquer mudança na Presidência da República. Há dois meses, a equipe do Palácio do Planalto começou uma reaproximação do Parlamento, em especial com políticos do PP, Republicanos e PL, que fazem parte do chamado "centrão". Além disso, o presidente conta com apoio de cerca de dissidentes do PSL e parlamentares de outras legendas, como o PSD e Pros. Por isso, no Congresso a análise é de que hoje o presidente tem mais aliados do que na última semana.
Mas, ao mesmo tempo, está “nas mãos” do centrão e tem atendido a desejos deles, como espaço em órgãos da União. Na última sexta-feira, ao pedir demissão, Moro “saiu atirando” e disse que houve interferência política do Palácio do Planalto ao retirar Maurício Valeixo da Diretoria Geral da Polícia Federal. A declaração resultou em pedidos de impeachment, como da ex-líder do governo no Congresso Joice Hasselmann e do PSB.
Nos bastidores, parlamentares declararam que o tom e a postura que o magistrado adotou no discurso foi eleitoreiro, já pensando em 2022. A queda do ex-juiz era desejo da maioria dos deputados e senadores, uma vez que vários deles são alvos de processos que ele moveu enquanto julgava casos da operação Lava Jato, em Curitiba (PR), além de disparar recorrentemente contra a classe política.
Por conta disso, Moro não conseguiu vitórias no Legislativo enquanto ministro, como a aprovação de projetos, mesmo que simples, sem alteração dos principais pontos deles. O apoio a ele se restringia a políticos que foram eleitos levantando bandeiras contra a corrupção e a favor da Lava Jato. A avaliação de líderes é de que ao apoiar pedidos de impeachment com base nas falas do ex-ministro, isso o fortalece e pode torna-lo "herói", inclusive para as eleições de 2022.
Isso não é de interesse de quem faz parte do centrão nem de deputados da oposição que não concordam com o modo que ele agiu em relação a prisão do ex-presidente Lula (PT). Além disso, a leitura é de que mesmo com o desgaste o presidente ainda conta com apoio significativo da opinião pública. Mas, os deputados não deixam de ressaltar que é uma via de mão dupla.
O presidente agora precisa abaixar o tom com a Casa e evitar novos ataques, ou tudo pode mudar. Isso levando em conta que há no Legislativo outros pedidos de impeachment que tratam de assuntos distintos, como o fato de o presidente participar de manifestações antidemocráticas e dizer que houve fraude nas eleições de 2018, mas sem apresentar provas. Isso, no entanto, vai permanecer em banho-maria por ora.
Nesta segunda-feira (27), inclusive, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já disse que é “hora de tratar de coronavírus e não de impeachment”. Ele também não teria condições de levar o processo pra frente por falta de apoio e há um receio de ser taxado como golpista. “Não vai prosperar nenhum pedido de impeachment neste momento. Por mais que Maia tenha apanhado, ele não vai fazer ferro e fogo.
Se a gente não tiver novos ataques, se ele diminuir um pouco a agressividade, não vai ser lua de mel, mas não se terá o afastamento dele. Agora, depois que passar pandemia, superar isso do Moto, e aí vamos ver como vai ser economicamente, como ele vai se portar, aí há possibilidade de iniciar um processo. Mas, estamos trabalhando um dia de cada vez”, resumiu um líder da Câmara.