Um estudo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), no Trângulo Mineiro, aponta que 539 pessoas morreram, entre janeiro e abril deste ano, com quadro clínico de SRAG em Minas. Isso significa um aumento de 648% em relação ao registros dos três últimos anos.
A preocupação é que esse aumento estrondoso corresponda também a uma séria subnotificação das mortes por Covid-19 no estado já que, em muitos casos, a SRAG apresenta sintomas muito semelhantes aos da infecção pelo novo Coronavírus.
A ausência de testes é, mais uma vez, apontada como responsável pela fragilidade dos dados expostos diariamente pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), como esclarece o professor Stefan Vilges de Oliveira que coordena o estudo.
“Nós observamos que há neste ano de 2020 um excesso de mortes causadas por SRAG, por pneumonia e insuficiência respiratória em Minas quando comparado com os anos anteriores. Nós entendemos que são casos sem diagnósticos que potencialmente poderiam ser casos de Covid-19, e que não foram eventualmente registrados de forma correta ou que não receberam diagnóstico laboratorial”, explica.
Segundo ele, há principalmente um excesso de óbitos causados por síndrome respiratória no começo do mês de março. A primeira morte por Coronavírus em Minas Gerais, em contrapartida, só apareceu no fim do mesmo mês (30). Os pesquisadores acreditam que possam ter acontecido mortes antes desta data, o que seria justificável pelo aumento expressivo de mortes por doenças respiratórias na primeira semana daquele mês, segundo o professor Stefan Vilges de Oliveira, que comanda o estudo.
“Há um aumento na frequência das mortes com essas causas e que têm clínica compatível com a Covid-19 na décima semana epidemiológica, que corresponde mais ou menos à primeira de março. São mortes por quadros clínicos compatíveis com a Covid-19 e que não são classificadas como Covid-19, isso aponta que pode existir um número subestimado de mortes”, esclarece.
Nesse sentido, o grupo de pesquisadores está preocupado que o aparente número reduzido de casos e mortes por Coronavírus em Minas sejam usados pelas autoridades para justificar a flexibilização das medidas mais rígidas de combate à pandemia, como o isolamento social.
“Nós precisamos pensar que se os casos em que os pacientes morreram já são sub-registrados, é muito provável que os próprios casos confirmados de coronavírus em pacientes vivos, que são divulgados hoje, também estejam subnotificados”, pontua.
Até o começo do mês de maio, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) descrevia diariamente a quantidade de casos suspeitos de Coronavírus — nos quais o paciente apresentava quadro respiratório agudo, mas não tinha diagnóstico — e óbitos investigados para Covid-19 na região. Entretanto, seguindo pressupostos do Ministério da Saúde, essas informações deixaram de ser publicadas.
Oliveira acredita que a única maneira de traçar um verdadeiro panorama da pandemia de Coronavírus no estado é testar um grande número de pessoas e avaliar os casos clínicos de óbitos de pacientes que tinham sintomas semelhantes aos da infecção.
“O Brasil é um dos países que menos testa, o estado de Minas também aparece como um dos que menos testa. Essa indisponibilidade de insumos tem fragilizado os indicadores. É muito importante ter o recurso dos testes laboratoriais para que a gente consiga entender a doença e adotar medidas mais adequadas”, disse.
A ideia de reavaliar as causas das mortes ocorridas este ano e classificadas como Síndrome Respiratória Aguda Grave é bastante complicada, como ele explica. “Nós observamos um excesso de mortes em março, mas é pouco provável que se consiga resgatar material biológico para fazer uma contraprova, uma nova análise. Essa será uma das grandes dificuldades para as secretarias de saúde. Mas, caso consigam material biológico dessas mortes, existe uma possibilidade muito grande de que boa parte das mortes com SRAG como causa sejam convertidos para óbitos por Covid-19”, encerra.