Importantes nomes do movimento hip hop estiveram presentes, na manhã desta terça-feira (3/10), embaixo do Viaduto Santa Tereza, na capital, local icônico para as manifestações culturais das periferias da capital mineira. Ali aconteceu o lançamento do Prêmio de Cultura Urbana de Periferia – Canela Fina, uma ação inédita realizada pelo Governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado de Cultura (SEC).
O evento contou com a apresentação de MCs, DJs e números de dança e a emoção marcou presença durante a homenagem feita ao MC que batiza o prêmio. Com inscrições já abertas, o edital, inédito, disponibiliza o valor total de R$ 280 mil a projetos das áreas de DJ, MC, dança e grafite. As inscrições devem ser feitas no endereço www.cultura.mg.gov.br.
O Prêmio homenageia um dos nomes mais relevantes do cenário do hip hop mineiro. Canela Fina morreu precocemente após um infarto, mas deixou um legado de luta que incentiva as gerações atuais. Os artistas presentes no evento manifestaram a importância da permanência da memória do MC e elogiaram a iniciativa do Governo de Minas Gerais.
“Esse é um momento histórico para mim. O fato de um edital voltado à cultura urbana levar o nome do meu irmão é muito significativo. Ele lutou muito pelo hip hop no início, quando ainda nem sabíamos direito o que essa cultura nos possibilitaria”, disse MC Radical Tee, irmão do homenageado. Durante sua performance no palco, ele não se conteve e chorou. “O prêmio é muito importante para nós e mostra que estamos ocupando mais espaço. Obrigado ao Governo de Minas Gerais e a Secretaria de Estado de Cultura”, completou o MC.
Uma grande festa hip hop veio em seguida, com performances de pessoas que participam da construção da cena musical mineira, como Eduardo Sô, Evandro MC, Bá, PC e Iceband. No microfone, os rappers Tamara Franklin e Roger Deff fizeram as vezes de mestres de cerimônia, enquanto os DJs A Coisa e Pooh comandavam as pick-ups.
“O prêmio é um incentivo enorme para o jovem da periferia ou para aqueles que vivem fora dela”, avaliou Roger, um dos nomes que movimentam a cena local. Representando a força das mulheres, Tamara Franklin reforçou a pujança da iniciativa. “Até pouco tempo atrás ainda éramos muito marginalizados. A premiação demostra que estão olhando para nós e isso traz dignidade e força para nossa cultura seguir ampliando e trazendo mais gente para o rolê”.
O secretário de Estado Cultura, Angelo Oswaldo, falou sobre o ineditismo do edital e a capacidade de transformação que a cultura hip hop traz para o âmbito social e político.
“Esse é um grande lançamento da nossa gestão. Sentimos que era fundamental olharmos para a cultura urbana de rua e entregar um edital que contemplasse as diferentes linguagens presentes no hip hop, que é um ambiente de resistência, de uma cultura que se volta para a emancipação dos sujeitos”, disse. O reconhecimento do valor da cultura de periferia foi ressaltado pela superintendente de Interiorização e Ação Cultural, Manuella Machado. “Esperamos que essa iniciativa fomente cada vez mais as manifestações urbanas de periferia”. Também presente no lançamento, o secretário-adjunto João Miguel reforçou o pioneirismo da gestão atual. “Esse edital tem um olhar sensível e demonstra a importância da cultura hip hop para a sociedade”.
Também exibiram suas performances os artistas Das Quebradas, o dançarino Luiz Jackson e o Coletivo Breaking no Asfalto.
Sobre o Prêmio
O Prêmio de Cultura Urbana de Periferia – Canela Fina busca difundir, aprimorar e consolidar a noção de cultura urbana de periferia, que vêm redimensionando tanto suas identidades étnicas quanto as representações sobre o próprio contexto onde vivem.
O valor total da premiação é de R$ 280 mil divididos em 28 prêmios no valor de R$ 10 mil cada. As inscrições estão abertas e podem ser realizadas até o dia 14 de novembro. O edital e os formulários para participar do processo seletivo estão disponíveis no site www.cultura.mg.gov.br.
O nome do edital é uma homenagem ao MC Canela Fina, que foi integrante do Retrato Radical, grupo referência do rap mineiro, com o qual gravou três discos: "Seja Mais Um" (1995), "O Barril Explodiu" (2000) e "Homem Bomba" (2010). Além disso, integrou em 1997 o grupo Black Soul, com o qual gravou o álbum "Patriamada", o primeiro CD de rap mineiro lançado por gravadora e com distribuição nacional. O disco saiu pelo selo Atração Fonográfica, que na época tinha artistas como Bezerra da Silva, Beto Barbosa e 509-E. Até hoje seu nome consta como um dos rappers com o maior número de registros fonográficos da capital, sendo que o primeiro álbum do rapper foi produzido em vinil pelo DJ A Coisa e lançado pelo selo local "Black White Discos". Canela Fina, ou Black, como muitos o chamavam, foi um MC habilidoso e um letrista versátil, considerado um dos melhores letristas do rap nacional. Sua morte, ocorrida em 2015 após um infarto, deixou um espaço vago na cena do hip hop mineiro.
Categorias do Prêmio de Cultura Urbana de Periferia – Canela Fina
MC: músico que compõe e canta o rap ou que faz o freestyle;
DJ: operador de discos que faz bases e colagens rítmicas sobre as quais se articulam os outros elementos do hip hop;
Dança: estilos que contam com improvisação (freestyle) e eventualmente com batalhas (competições formais ou informais de dança). Os estilos são locking, breaking, popping, hip hop dance e krump;
Graffiti: inscrições caligrafadas ou desenhos pintados ou gravados sobre suportes que possibilitem a intervenção artística em espaços urbanos), o edital distribui sete prêmios para cada um dos artistas.
Quem pode se inscrever:
O edital é direcionado a artistas, produtores, coletivos e grupos ligados à cultura do Hip Hop. Podem se inscrever na premiação pessoas físicas, coletivos artísticos ou pessoas jurídicas sem fins lucrativos e que residam há, no mínimo, um ano em áreas de vulnerabilidade social de aglomerados, favelas e vilas dos municípios de Minas Gerais com população igual ou superior a cem mil habitantes. O edital irá contemplar projetos ou ações já executadas ou em execução.