Após três dias de intenso trabalho investigativo, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) obteve êxito ao localizar um cativeiro e libertar duas vítimas de sequestro, além de efetuar a prisão de quatro suspeitos e a apreensão de dois adolescentes, de 13 e 17 anos. O desfecho das apurações ocorreu na noite desse domingo (15) em Matozinhos, desmantelando a organização criminosa que planejava a execução desse tipo de crime na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Também foram apreendidos uma metralhadora de fabricação caseira calibre 380, um revólver calibre 38, dois veículos, sendo um deles das vítimas e toucas usadas pelos investigados.
Divulgação PCMG
Coletiva à imprensa
O Superintendente de Investigação e Polícia Judiciária, Delegado-Geral Márcio Lobato, destacou a ação da equipe. “Esse é um fato que reputamos como sendo de extrema gravidade e que praticamente não estava ocorrendo em Minas Gerais, de extorsão mediante sequestro. A atuação dos policiais foi louvável, a equipe agiu de forma rápida e ininterrupta”, ressaltou.
Foram presos Fabiane Rodrigues Albano, 25 anos, Joyce Catharine Marçal Rosa, 21, conhecida por “Zé Pequena”, Wallison Carlos de Oliveira, 40, o “Coroa”, e João Pedro Pereira Amorim, 18.
De acordo com o Delegado Felipe Freitas, as vítimas de 37 e 57 anos, filho e pai, do estado de Goiás, foram atraídas por um anúncio numa página da internet, em que estava à venda um trator. As tratativas ocorreram por telefone, cerca de uma semana antes do encontro com o anunciante, que na verdade é o presidiário Helton Henrique Gomes, 35, que se passava por José Carlos.
Na quarta-feira passada (11), pai e filho chegaram até Pedro Leopoldo para verem a máquina e fechar o negócio, e foram recepcionados por Fabiane e um comparsa, ainda não localizado. “Primeiro, levaram as vítimas para uma casa abandonada, onde já estavam outros envolvidos. Horas depois, foram para o segundo cativeiro, em Matozinhos. Um imóvel alugado pelos suspeitos, mas que não tinha mobília, apenas um colchonete”, detalha Freitas ao contar que durante todo o tempo em que ficaram sob o poder dos suspeitos as vítimas eram ameaçadas, estavam em condições sub-humanas e chegaram a ser agredidas.
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Local do cativeiro
Extorsão
De acordo com o Delegado, os investigados chegaram a subtrair pertences das vítimas, incluindo cartões bancários, e exigiram as senhas. “Os suspeitos realizaram diversos saques e compras, até que os cartões foram bloqueados”, observou. Outra forma de obter vantagens foi obrigar as vítimas, sob ameaça, a ligarem para familiares, dizendo que haviam fechado negócio, e que depositassem a quantia em determinada conta.
O valor era de R$ 80 mil, como se fosse o pagamento pelo trator, que nunca existiu, e que o preço médio real seria em torno de R$ 140 mil. “As pessoas devem suspeitar de negócios muito bons”, alertou o Superintendente Márcio Lobato. “Essas vítimas passaram por situação de violência e o trauma persiste pela vida”, completou.
Felipe Freitas contou que, na sexta-feira (13), familiares chegaram a fazer o depósito, mas a organização não conseguiu retirar o dinheiro. Desconfiada da situação, a família acionou a Polícia Civil, que, imediatamente, começou a fazer levantamentos, utilizando ferramentas de inteligência e diligências em campo. “Pai e filho foram mantidos em cativeiro sob a promessa de que seriam libertados apenas quando conseguissem sacar o montante depositado na conta que foi repassada, o que ocorreria nesta segunda-feira”, assinalou.
Durante o trabalho investigativo, no domingo, a equipe abordou Fabiana, Joice e a adolescente de 13 anos em um veículo, quando estariam indo para o cativeiro. Já Wallison e João Pedro foram localizados em suas residências, em Matozinhos. O adolescente de 17 anos, foi apreendido no cativeiro.
Organização
O Delegado Felipe Freitas informou que o grupo era liderado por Fabiana, que fazia a escala dos “vigias”, comprava alimentos e cuidava do armamento e veículos empregados. “O adolescente de 17 anos ficava em tempo integral no cativeiro e recebeu a ordem de executar as vítimas caso tentassem sair do local. Os demais se revezavam na guarda”, detalhou. Ele informou que esta foi a terceira ação planejada da associação criminosa, com o mesmo modo de agir. No primeiro caso, a vítima, de Santa Catarina, suspeitou e quando o anunciante foi encontra-la, resolveu retornar. No outro, a vítima de São Paulo conseguiu fugir, deixando o veículo, com R$ 19 mil dentro.
Os suspeitos serão indiciados por extorsão mediante sequestro, associação criminosa, posse de arma de fogo de uso restrito e de uso permitido, corrupção de menores e receptação, cujas penas somadas chegam a 38 anos de prisão.
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